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Manuel Armando

Padre

Magia na Fé

Há muita gente boa que desatina ou desespera porque, diante de um mágico, olhando para o que ele faz e tentando perceber como faz, acaba por deixar passar os pormenores sem atingir qualquer vislumbre da rotina dessa magia.

Também, valha a verdade, se o entendesse, o artista não seria de grande mérito profissional.

Ora, então, quando os olhos nada descobrem, o assistente irrita-se e, com voz alterada, diz: Mas que raiva! Sei que estou a ser “enganado”, mas não vejo como e onde.

Esta atitude denota o encantamento que tudo aquilo que é misterioso pode produzir no íntimo de cada um, levando-o tanto ao desnorte como à curiosidade e vontade de desvendar o segredo ou a desistir disso quase cobardemente.

Nem tudo na vida humana activa se descobre e o cérebro do homem também esbarra com limites intransponíveis, pelo menos, no imediato.

Perante a nossa incompetência de entendimento, não podemos, sem mais, desistir ou bater, frustrados, com os pés no chão. Confrontemos, sim, a nossa soberba vazia e cultivemos uma humildade permanente que aceite as limitações intelectuais e práticas, frutos de incapacidades plenamente naturais.

Nunca é fácil lidar com a realidade da inoperância, sobretudo, nas ocasiões em que buscamos respostas palpáveis para quaisquer inquietações.

Concordemos, porém, que os nossos ciclos humanos deverão ser uma ascensão em ordem à abertura mental e ao reconhecimento das incomensuráveis fragilidades e lacunas particulares, diante das quais a consciência procurará o melhor equilíbrio possível, tanto ao expressar alegremente o que descobre, como aceitando, em espírito simples e na compostura, o que ultrapassa qualquer conhecimento.

Observando o universo de cada indivíduo, decerto, admiramos a sua compleição inteligente e moral, mesmo não sendo capazes de ombrear, como iguais, os dotes e apanágios de que são exornados.

Há nisso tudo uma magia que subentende certo encanto ou admiração muito subjectiva do pensamento de quem quer interpretar os diversos passes do desenrolar das coisas.

Ora, em diversas circunstâncias da vida humana, provocam-se visões de encantamento, provindo de quanto é maravilha e está escondido além dos sentidos que “palpam” realidades.

No cérebro permanecerá a admiração e gratidão pela alegria ou pelo desconhecido, enigmático e inatingível.

Transpondo os umbrais da arte com os seus atractivos naturais, podemos embrenhar-nos no campo da Fé, porém, partindo de um propósito simples, aberto e sem reticências preconcebidas.

Vamos pela via do querer, na sinceridade, “ver ou experimentar” aquilo que a inteligência não pode tocar. Isto, sem nenhuma revolta nem ressentimento de inutilidade. A grande vantagem da humildade é aceitar com firmeza o que não compreendemos e trabalhar no sentido da adesão e esperança de mudar as nossas presunções de grandeza para nos percebermos como agentes que lidam com o ideal de tornar a vida mais agradável, procurando chegar ao grau de perfeição e na convicção de se alcançar, num futuro, o que agora apenas desejamos.

O nosso crescimento de corpo também o vamos seguindo numa responsabilidade pessoal humana, com a necessidade de dar ou encontrar respostas, dentro de e para nós mesmos.

Aqui, imagino podermos avançar muito mais e afirmar que a Fé é a observação meditada das maravilhas que nos deslumbram e encontramos no nosso universo ambiente, – lado obscuro e complexo para o qual não achamos respostas adequadas e cabais que nos satisfaçam.

Sensatamente, havemos de aceitar que Alguém – a Natureza, alguma Inteligência superdotada, um SER SUPREMO, ou seja lá quem tiver sido, organizou tudo quanto vemos e desfrutamos.

Ao “agente fazedor”, quem quer que for, demos-lhe o nome que quisermos, mas permaneceremos sempre infinitamente aquém do que gostaríamos conhecer ou tocar em concreto.

Será, pois, ocasião de calcarmos a material jactância e revestirmo-nos da simplicidade, reconhecendo a nossa humanidade e compreensão que poderão atingir um determinado nível, mas que não passarão muito além disso.

Na medida que vamos descobrindo a verdade da Criação sentimos a obrigação de o homem a continuar e com os seus pormenores embrenhamo-nos na descoberta da maravilha de tudo quanto foi feito e desejamos imitar.

Empenhados assim em completar a obra criada é deixarmo-nos fascinar pela magia de tudo o que é belo e, na seriedade, sermos levados a acreditar, honestamente e sem alardes, em Alguém existindo muito acima de nós.