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Eduardo Jaques

colaborador

Missionário de Calvão deu a Vida pela Paz

Ordenado a 29 de junho de 1955, em Cucujães, o Pe. Alírio Baptista partiu, um ano depois, para Moçambique, onde se encontrava metade da família. Filho mais novo de Manuel Baptista e Maria de Jesus Costa, de Choca do Mar (Calvão), lavradores “honestos e cristãos”, o missionário foi professor no Colégio/Liceu Vasco da Gama, em Nampula, durante três anos. Em 1959 foi nomeado superior da Missão de Iapala. Aqui construiu, com a colaboração do Irmão Balau, a casa paroquial, a casa das irmãs e escolas, tendo ainda montado uma estrutura de produção do tabaco, para sustentar o trabalho da missão. Para além de “fecundo trabalho apostólico”, de promoção humana da região, o objetivo do Pe. Alírio era a evangelização e promoção dos africanos.

De volta a Nampula, em 1974, foi pároco da catedral e responsável pela Missão de Murrupula. Totalmente disponível para o serviço da diocese, acabaria por fazer amigos, em todas as classes sociais, e das várias opções políticas. E terá sido “por causa dos amigos”, que foi detido durante meio ano. Em 1981, enviado pelo arcebispo de Nampula, fez em Roma o curso do movimento “Mundo Melhor”. Admitiu, na altura, que a sua experiência foi “uma grande oportunidade de descanso e de reciclagem teológica e espiritual”.

De regresso a Moçambique, seria colocado na sua antiga missão, em Iapala, com o firme propósito de “servir as comunidades cristãs, servir, com generosidade e ousadia, o povo abatido por tantos sofrimentos, e servir o Evangelho de Deus”, são palavras de D. Manuel Vieira Pinto, para quem o Pe. Alírio Batista terá sido sempre “um homem generoso, otimista e cheio de esperança”.

Na realidade, a norte da antiga província ultramarina, a guerra civil “estava muito forte naquela região, pelo que visitar as comunidades longínquas era risco de vida”. Sempre acompanhado pelas irmãs da Congregação de S. João Baptista, e confiado nos amigos que lhe indicavam os caminhos mais seguros, as suas visitas apostólicas “surpreendiam as comunidades isoladas”. O Pe. Alírio sabia que “era perigoso estar na região de Iapala e andar por aquelas estradas; a guerra andava escondida, mas sempre algum amigo dava conta do movimento das tropas, pelo que nunca desistiu do fiel desempenho da sua missão”, relataria, mais tarde, um dos missionários da Boa Nova, que com ele trabalhou.

A 20 de novembro de 1983, dia de Cristo Rei, o Pe. Alírio viajou de jeep, de Iapala para Nampula, e trazia consigo um professor da Escola Secundária. A cerca de 60 km do destino, um camião do projeto agrícola de Ribaué caiu numa emboscada, cometida pelos guerrilheiros da Renamo, na descida acentuada da estrada, após uma curva. O missionário vaguense, que vinha logo a seguir, acabaria por ser surpreendido com disparos de arma de guerra. O ataque brutal vitimou-o de forma violenta, em plena atividade missionária. Faz agora 38 anos – Alírio Batista foi o primeiro sacerdote a dar a vida pela paz em Moçambique.