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Manuel Armando

Padre

Na Juventude nem tudo está mal

“Quando a juventude arrefece, o mundo bate o dente ou a Igreja congela”. Alguém o disse, passando isso a ser quase um ditado antigo e nós entendemo-lo quando perscrutamos com convicção o nosso tempo tão conturbado no qual os mais novos iniciam a preparação de vida, supondo que serão aceites na sua independência ou autossuficiência em todas as circunstâncias.

Nesta fase de crescimento tão peculiar, essa sua vida e essência exigem, na verdade, incentivos fortes, dimanados de alguém mais experimentado e abalizado que possa dispor-se como testemunho e promotor de ideais sérios frutificantes numa existência prenhe de significado e ambições íntimas e sinceras para os jovens que querem demonstrar que o mundo ainda não é tão mau e amorfo como, tantas vezes, se ouve afirmar. Eles galvanizam a sociedade tanto no bem como no mal, de um modo muito particular e próprio nesta etapa do seu desenvolvimento humano a apontar para a melhoria da sociedade que terá de alicerçar-se na terra firme das convicções adequadas à descoberta de tudo quanto é valioso na edificação de uma humanidade a deixar-se reger pela sensatez e realismo.

Dizer-se que os jovens, hoje, são uma classe desprovida de sentimentos, eivada de desejos e práticas hedonistas, é impreciso e estar-se-á a laborar em erro. Na verdade, nem todos os jovens são bons, porque também muitos, pelo menos e pelos mais variados motivos familiares ou sociais, não gozam do apoio devido e exigido, uma vez que a comunidade mais adulta se vai deixando adormecer acerca dos seus deveres de transmissão e abandonam os jovens sem rumo nem bases concretas que assegurem um futuro que se aproxima, a passos largos, de todos eles.

Não é fácil construir um universo de raiz segura e aberta à produção de fraternidade humana e trabalho eficaz. Porém, nem tudo está virado para a derrota porquanto ainda há uma percentagem elevada de jovens que, motivados pelos diversos objectivos honestos e criteriosos, buscam uma felicidade diferente, enraizada na esperança de a sociedade se tornar justa e operativa.

Se, actualmente, assistimos a um crescer dalguma juventude que não atende a compromissos essenciais não a vamos, por isso, acusar e condenar linearmente de uma culpa que, em parte, está mais assente nas famílias as quais nada falam disso, uma vez que outros interesses transitórios amarfanham certos indivíduos de maneira a eles não se vincularem nunca às grandes responsabilidades que irão eclodir nos tempos mais próximos.

A viragem das coisas foi abrupta e mal avaliada. Quando se abriram algumas portas a um comportamento mais livre – dizem – não se acautelaram os valores fundamentais que deveriam pautar o humanismo que, agora, deixa muito a desejar.
Grandes culpas terão de ser assacadas àqueles pais que se descuidam constantemente dos seus afazeres educativos testemunhados.

É evidente que não nos deixaremos soçobrar pelo desânimo negativo pois o mundo é grande e em todos os seus cantos sobressaem exemplos como razões de confiança para uma humanidade em renovação ardorosa.

Entre nós houve recentemente o grandioso acontecimento da Jornada Mundial da Juventude. Importante não tanto pelo número imenso de gente nova presente, mas pelo seu entusiasmo demonstrado e vivido.
Pessoalmente, nos instantes em que tive o ensejo de trabalhar com e para os jovens, vindos de vários países, bem pude observar e descobrir, na sua sinceridade e alegria, o seu intenso entusiasmo e desejo de descobrir a vida com Cristo e nos irmãos sem diferença feita à raça ou cor de cada grupo participante.

Tudo quanto possa exibir-se a contrariar tão alta ocorrência não conseguirá desventurar tanta coragem e exemplo de uma infinidade de jovens que continuam a lutar pela fé, vivendo-a em destemida e incendiada fraternidade humana universal, enquanto confiam e afirmam, num cântico sentido no seu íntimo, que o bem e a verdade irão finalmente vencer.