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Manuel Armando

Padre

O âmago do encontro

É frequente ou mesmo costumeiro, por inúmeras e variadas razões, promoverem-se encontros.
Se é preciso delinear e promover quaisquer eventos, serão convocados os mais diversos indivíduos de quem se esperam boas reflexões ou ideias arejadas, felizes e produtivas, para o devido encontro.

Nele se vai enraizando a convicção de que as pessoas descobrirão algumas facilidades, carregando consigo soluções adequadas, de modo a superarem as múltiplas contrariedades que antes se apresentavam sem nenhuma réstia de luz para as vencer.

O trabalho idealizado e elaborado em comum obterá, sem dúvida, outro alcance, profundo e seguro.

Uma alavanca resistente, mas podendo vergar, não goza de tanta eficácia, em si mesma, quanta a de dois braços ou duas cabeças pensantes, apoiadas na reciprocidade.

Toda a finalidade das actividades humanas exige irrefutavelmente o encontro.

Admiremos as crianças como utilizam no despertar da infância a irrequietação nas suas manifestações lúdicas, transformando-as em tempos ricos de encontro que alicerçam a compreensão, o espírito de colaboração e a amizade, por vezes, para a vida inteira.
E por quê?

Os jovens, enquanto muita gente os poderá considerar vazios e fúteis, manifestam uma capacidade enorme de se congregarem por motivos geradores dalguns grandes empreendimentos com bons resultados. Eles reúnem-se para desfrutarem a música, o desporto, a simples convivência ou experimentarem atitudes de bem-fazer em ajudas a carenciados como também na missionação.

E por quê?

As famílias fazem tudo por se encontrarem nas ocasiões das férias e festas várias, aliviando possíveis pressões e animosidades ou fortificando os laços indestrutíveis da afectividade e união.

Quando são escassas as oportunidades no alívio das saudades, há que aproveitar todos os minutos e os pequenos nadas para o encontro ser o acontecimento desejado e locupletado com a alegria esfusiante de quem extravasa uma ansiedade quase incontida.

E por quê?
Não é raro os grandes senhores da política provocarem encontros para discorrerem sobre a finança, a guerra e a paz, o intercâmbio com parceiros e amigos, a colaboração no desenvolvimento social e económico, os pactos de não agressão, a abertura de fronteiras aos migrantes e mais tantos outros negócios distintos.

Bastantes vezes, porém, idealizam contratos de convergências que parecem balofos e pouco perduráveis.
E por quê?
Qualquer que seja a índole do encontro, ele tem de partir daquela base de simplicidade e verdade peculiares das crianças e seguir num despojamento de ideias, conceitos ou credos preconcebidos que não permitem amolecer nem concedem o ensejo ou o lugar à apresentação de tendências contrárias.

Deveriam estar sempre na sua frente o direito à felicidade para todos os povos e visar, em primeiro plano, as pessoas e depois os acessórios que as servem.

Ora observando as controvérsias, as inquietações, as divergências internacionais e até as locais, os maus resultados de tantos convénios, tidos como eficazes, e um sem número de derrocadas entre os povos, tentemos então nós perceber certas causas que possam explicar tantas catástrofes mundiais que se pautam pela fome, pela escravidão de grandes e crianças, em suma, pela filosofia da destruição e morte.

Reparamos que quase todas as tentativas empregadas nessas circunstâncias se tornam indeficientes.
Bem se podem multiplicar encontros em muitos cantos do universo e com as diversas camadas de sociedade. Todavia, todos, eu e tu igualmente, deverão deixar de ser pedras, que também se encontram, mas não dialogam nem convertem o seu íntimo.

Ora se o homem vai para o encontro sem se encontrar a si próprio e não se abre ao diálogo com os outros, jamais poderá construir algo de meritório e duradoiro.

Não poderá ser nunca nem sequer uma gota de água a lavar ou a restaurar o que lhe cabe em sorte na sociedade global.

Oxalá todos os encontros fossem o resultado final do encontro de cada um consigo mesmo. Porque aí se situa o âmago do encontro universal.
Todos se tornariam mais justos e felizes.