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Orlando Fernandes

Assinante JB

O Banco de Fomento

O choque económico associado à pandemia da Covid-19 está a afetar fortemente a capacidade de geração de resultados por parte das empresas, pondo em causa a sua capacidade para fazer face aos compromissos creditícios no curto e médio prazo. As moratórias que estiveram em vigor até setembro apenas protelaram o problema, cuja dimensão dos impactos negativos podemos intuir, mas que verdadeiramente ainda não se consegue medir, dada a manutenção da imprevisibilidade da evolução da situação económica.

De entre as empresas mais vulneráveis estão seguramente aquelas que já evidenciavam antes da crise níveis de sobre-endividamento elevados, mas também, aquelas que viram a situação degradar-se drasticamente, apresentando resultados operacionais negativos.

Acresce que este conjunto de empresas aumentou, em 2020, o seu stock de dívida em cerca de 9%, atingindo 31% do total de endividamento das empresas portuguesas, sobretudo ao abrigo de medidas de incentivo ao crédito bancário (linhas Covid). Daqui decorre que o previsível aumento dos incumprimentos pós-moratórias vai resultar na falência destas empresas zombies e, concomitantemente, na efetiva constituição de imparidades por parte dos bancos para absorver perdas.

Mas atrevo-me a dizer que o efeito mais impactante ocorrerá num momento posterior, com as inevitáveis alterações do comportamento dos financiadores com o (ainda maior) estreitamento da malha na concessão de crédito e que afetará todas as empresas “sobreviventes”.

Recorde-se que as fortes restrições no acesso ao crédito, que se verificaram aquando da troika, fizeram-se sentir não só a limitação, como também pela agudização das condições da concessão de crédito depois de 2011, cerca de 86% das PME nacionais passaram a ter piores condições de financiamento nos bancos, cerca de 75% dessas empresas viram o seu crédito reduzido e a 87% das PME portuguesas foram solicitados mais colaterais para garantir o seu crédito.

Esta questão é tão importante quando se sabe que o financiamento bancário ainda é – e não se prevê que tal situação se altere no futuro próximo – a principal fonte de financiamento das empresas nacionais.

E esta realidade é ainda mais significativa quando pensamos nas micro empresas e PME, e nas suas tradicionais dificuldades de diversificação das fontes de financiamento através do mercado de capitais e capital de risco.

Nestas circunstâncias, impõe-se que as falhas de mercado sejam “corrigidas” por respostas públicas. São, por isso, imprescindíveis as iniciativas do Estado para criar instrumentos de financiamento, sobretudo não bancários, para que as empresas possam voltar a investir na modernização dos seus modelos de negócio e crescer de modo continuado e sustentável.

Por isso, entendo que este é o tempo do Banco Português de Fomento interagir com os agentes financeiros e apresentar soluções inovadoras, promovendo, por exemplo, o acesso das PME ao mercado de capitais (aumento de capital ou dívida) e a private equity.