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Manuel Armando

Padre

O Idoso é arca de recordações e Mestre de Vida

Todo o homem que pensa, trabalha, angaria meios económicos, faz poupança de alguns dos seus haveres, vive um sonho ou caminha em permanentes anseios por uma vida mais pacata sem o espectro da miséria ou do desprezo por parte dos amigos comuns e, muito menos, do abandono em que os seus, tantas vezes, os colocam.

Apresenta-se cada vez mais difícil a tarefa de definir e aprender a ajudar alguém a ser idoso, antevendo o mesmo para si.

A nossa existência humana vai-se encurtando no tempo como também as capacidades físicas e anímicas enfraquecem, mas, uma verdade ressalta com naturalidade e força porque sobressai a evidência sem hipótese de ser esquecido ou negado o facto de que a sabedoria, a experiência e o conhecimento ultrapassarão o tempo ficando como legados para os que “caminham” atrás.

Todo o idoso é uma autêntica “universidade” com o exercício de certas e conhecidas faculdades.

Ora, imaginem-se algumas das suas dinâmicas de ensino:

  • Qualquer um deles abriu arquitectura para edificar a sua casa e da família; proporcionou a psicologia do conhecimento de vida, enquanto ensinou, usando formas adequadas, os seus e os outros; enriqueceu a faculdade de educação, querendo incutir à sua volta métodos de boa convivência e respeito recíproco; usou as finanças e a economia, a consciência e a ponderação dos equilíbrios familiares, contando moedas, uma a uma; olhou com desvelo a saúde física e moral de quem o rodeava; demonstrou a prática eficaz do desporto que consistia nas grandes caminhadas até ao local de trabalho duro, na procura da conquista de uma compleição corporal e moral de grande porte bem como do ordenado que tornasse possível o sustento do agregado familiar; franqueou portas a uma teologia popular, ensinando aos seus, desde a sua idade tenra, o caminho da fé e do amor.

Tais “universidades” vão-se agora fechando. Isto é, cada idoso que parte leva consigo um alfobre de saberes e obras experimentadas que, se não forem assumidas por quantos devem aprender, apodrecerão para sempre no fosso do desprezo e da inutilidade.

Que coisa melhor e mais profícua se pode procurar nestes dias quando a velhice parece não colher simpatias nem frutos de respeito e aceitação, numa pandemia de mistérios destes tempos actuais?!

Tentemos responder com sincera convicção: – Os idosos aparecem como pessoas experientes e abalizadas e neles assenta já um mundo, construído na base da solidariedade e sacrifício. Assim aceites como autênticas arcas que abraçam tesouros inesgotáveis de recordações e experiências de uma vida mais ou menos longa, não serão verdadeiras “universidades” com essas faculdades activas e escancaradas aos vindouros?

Oxalá estes saibam adquirir também semelhante “traquejo”, aproveitando, segura e inteligentemente, toda esta existência exemplar de abnegação e trabalho, de modo a nada se perder.