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Orlando Fernandes

Assinante JB

O interior de Portugal

As legislaturas vão passando, governo entra, governo sai, e nada acontece de idealizado, planeado e sistematizado para ajudar a desenvolver o interior do país, para atrair gente jovem que queira residir e criar os filhos no interior, para apoiar a criação de empresas e para impedir aquilo que parece inevitável, a desertificação inexorável do interior e o êxodo populacional massivo para a faixa costeira (ou para a emigração). Se não há emprego, não há famílias, se não há famílias, não há crianças e sem crianças não há futuro.

Não rejeito as qualidades das cidades junto à costa e a sua capacidade em aglomerar culturas distintas na oferta cultural, em criar novas oportunidades, etc., mas se existe algo que a pandemia nos mostrou, foi que existe um refúgio no interior, onde é possível viver com qualidade de vida, em comunhão com a natureza, sem ser preciso rejeitar a digitalização.

A pandemia da Covid-19 veio dar uma ajuda maior do que qualquer Governo até hoje. A necessidade de um maior isolamento social, a fuga aos grandes aglomerados populacionais, o desejo de muitas famílias de fugirem de uma vida stressante nas grandes cidades, tem levado a que muitas visitassem o interior pela primeira vez e se questionassem, pensando a partir desse momento na possibilidade de reunir poupanças e investir em projetos agrícolas ou de turismo nas terras que herdaram da família, esquecidas e abandonadas há décadas.

Muitos estrangeiros olham, igualmente, para o interior de Portugal como o refúgio pacífico, tranquilo, pouco exposto aos efeitos de pandemias, que os seus países da Europa Central não garantem.

Estes novos emigrantes, os ´nómadas digitais´, pessoas de várias nacionalidades cujo trabalho é efetuado a partir de casa, precisando apenas de um computador e de internet de alta velocidade. Muitos casais encontraram o seu cantinho no nosso país e, enquanto os tratarem bem, e gostarem daquilo que a região lhes oferece, assentam arraiais.

Há que aproveitar esta gigantesca oportunidade que a maior crise pandémica de sempre nos trouxe e saber transformar o interior de Portugal num exemplo de desenvolvimento sustentável e de qualidade de vida.

Honremos as vítimas desta pandemia, potenciando as oportunidades que ela nos deixa. Cumpramos pois, Portugal como um todo, criando um desenvolvimento equilibrado, atenuando as desigualdades e a falta de oportunidades, criando um país mais justo e homogéneo. Que possa nascer um novo normal, em que o interior tenha futuro.

Somos desta ´casta´ que nos leva do impossível ao fazer acontecer. Somos o Interior.