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Jorge Sampaio

Vice-Presidente da Câmara Municipal de Anadia

Pelouros e pelourinhos

Esta coisa de não ter redes sociais, faz-nos perder alguns alimentaegos que a malta vai colocando nas suas páginas, numa tentativa de atenuar algumas frustrações, com os aplausos (likes), que o Facebook proporciona. Mesmo que poucos, sempre enchem a alma de alguns.

Há uns dias atrás, em reunião do Executivo Municipal, tomei conhecimento da referência, em publicação nas redes sociais, feita pelo Vereador do PS, à existência de Vereadores com pelouros, e um com pelourinhos.

Admito que, por ingenuidade minha, pensei que o mesmo, quando falava em pelourinhos, se referia às estruturas que existem em inúmeras vilas e cidades deste país e que, muitas vezes ao longo da história, eram usadas também, como locais de punição e castigo daqueles que menos bem se portavam.

Ora pensei eu, de forma naif, o Vereador percebeu que tinha tido, nestas eleições para a Câmara Municipal, o pior resultado de sempre do PS, e está, em ato de contrição, e autorresponsabilização pelo sucedido, a entregar-se ao pelourinho.

Qual não é o meu espanto, quando percebo que a causa da coisa não era essa, mas sim a vontade de atingir um dos Vereadores do MIAP, tentando minimizar a importância dos pelouros que lhe tinham sido atribuídos.

Mas, em esforço, e num total exercício teórico, tentemos compreender o raciocínio do Vereador do PS, e entender como é que se pode medir a dimensão da importância de um pelouro.

Será pelo número de palavras ou letras da sua designação? Se assim for, importa saber a partir de quantas sílabas se incrementa a “pompa peloural”, ou em que ponto é que o pelouro se reduz a pelourinho.

Será pela acentuação dessas palavras? Vagueando a qualidade do pelouro, entre um imponente esdrúxulo e o mais afável agudo.

Ou será que existe um medidor de importância de pelouros? Um qualquer mecanismo que apontando para o pelouro, o mede e classifica. Talvez um Pelourímetro? Estivesse aqui o meu Professor de Desenho Técnico, e já estaria a dizer, lá do fundo do anfiteatro: “É uma régua de escalas, menino. Uma régua de escalas.”

Fica o desejo pessoal que na análise dimensional da importância de pelouros, entre a variante peso do vereador, colocando-me assim, à partida, na linha da frente dos super pelouros.

É lamentável que alguém que se candidata a uma Câmara Municipal, não tenha a mínima perceção da atividade que uma Autarquia desenvolve, em todas as suas áreas de atuação, e da medida em que todas elas, sem exceção, têm uma ação directa nos cidadãos. Provavelmente, é nesta imperceção que reside uma das razões para alguns resultados eleitorais.

Qualquer área de intervenção de uma Câmara Municipal é sentida, e influencia a vida das pessoas, e por isso é de enorme valor para quem a tem de planear, executar e gerir.

Ter um Pelouro, ou vários, numa gestão autárquica é acima de tudo uma honra, e o assumir de enormes responsabilidades para com os munícipes. Não se consegue medir a dimensão da responsabilidade que um eleito tem para com o seu eleitorado, simplesmente porque esta é de uma dimensão total, sem limites.

Os pelouros são como outras coisas da vida – o tamanho não importa, o que é importante é o que se faz com eles.

Estes arrufos, fazem-me recuar aos tempos de gaiato, quando andávamos de olhos na miúda mais gira do liceu. Aos nossos olhos, era incrível, perfeita. Tudo fazíamos para a conquistar. Mas, quando descobríamos que afinal a opção dela tinha sido por outro, de imediato, para nós, passava a ser a pior moça do recreio, e as virtudes rapidamente se transformavam em horrorosos defeitos.

A única diferença para os dias de hoje, é que nesse tempo não havia pastilhas Rennie, e hoje há. Por isso, agora estas coisas passam mais rapidamente.