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Manuel Armando

Padre

Quando a crítica é a arma dos inúteis

Atentemos no facto de a crítica dever ser, em primeiro lugar, um exercício inteligente, avaliador de muitas actividades operadas numa comunidade organizada e, depois, fazer crescer a harmonia entre todos os elementos constitutivos, colocados nos seus devidos lugares para o exercício das funções concretas com arte e lealdade.

Para isso, torna-se preciso que sejam aventadas hipóteses de organização e desempenho das respectivas atribuições no trabalho de cada pessoa, em colaboração simples e sem interesses pessoais.

Daí, ser suposto um exame criterioso sobre os meios que almejam atingir um fim. Para se chegar a essa meta são úteis todos os conselhos e orientações, frutos de análises críticas que ajudam a localizar as lacunas existentes para as debelar antes de alguma realização chegar ao termo. Aqui se prevê a presença necessária da crítica construtiva de cada um que entende qual o seu papel integrante, em qualquer grupo humano.

A crítica, sendo voz de uma consciência arrumada, ajudará a repor valores onde aflore a verdade. Ela pode fazer crer lisonja ou louvor momentâneo fortuito por qualquer coisa criada com visão ou vontade, mas será sempre uma achega prestimosa. Ela aparecerá em qualquer tempo das muitas manifestações humanas nas quais abunda sempre quem opina ideias criteriosas, como também eivadas de sentimentos negativos os quais não vão ser tomados a sério. É que em diversos empreendimentos pululam frequentes dúvidas, forjadas com o intuito de impedir qualquer progresso.

Na elaboração de determinados eventos deve pedir-se e tomar em consideração um juízo crítico que seja justo, evitando a ameaça de qualquer acesso ao derrotismo desenfreado e descabido.
É verdade que a crítica porá facilmente nos píncaros da fama quaisquer obras feitas ou a fazerem-se, desde que sejam afastadas as atitudes maledicentes de quem nada faz, mas em tudo procura parecer importante.

A crítica desonesta que vê em tudo só deficiências e erros, faz denotar a sua inutilidade, pois traz à tona uma insatisfação cuja razão nem o autor conhece e provoca um mal-estar entre aqueles membros sérios da sociedade que chegam a querer abandonar o trabalho ou a fazê-lo com “orelhas moucas”, pois o desânimo, quando provocado pela soberba de quem diz mal, conduz a uma falta de força na tarefa a levar por diante.

A crítica, assim, acarreta consigo em diversas direcções a recusa de se assumirem certos empreendimentos, por causa da insatisfação egoísta e doentia pela parte de quem nunca nem nada fez de benéfico para a sua comunidade local ou outra mais alargada.

Alguma coisa que apareça em público será um espelho baço para aqueles que, estando cientes da sua própria inoperância, logo minimizam quanto esteja apto a unir as pessoas. O que surge de positivo possibilita a noção clara da frustração pessoal, baseada na incompetência e ignorância ou preguiça constante e alienante de alguém e, consequentemente, a rejeição de adesão aos demais.

Os inúteis ou parasitas da comunidade são todos quantos dão palpites sobre quaisquer cometimentos que visam o bem, o desenvolvimento e a diversão ou a construção de um mundo fraternal, mas negando-lhes assentimento e desdenhando, como mordazes e pretensos sabichões que pensam ser.

Levantam a sua voz rouca e desprezível para dizer mal, inventar comportamentos, procurando esconder-se, anónimos, debaixo da mesa, quais rafeiros esfomeados, e que ninguém os veja, a aproveitarem as migalhas que comem com sofreguidão mórbida, caídas do trabalho daqueles que hão-de lastimar os desventurados para quem a crítica é a única arma que empunham, enquanto se exibem, afinal, como inúteis.

Estes admirem-se ao espelho, mas com cuidado para não o fazerem em cacos.

Texto escrito ao abrigo do anterior acordo
ortográfico, por vontade expressa do autor