Assinar

João Pacheco Matos

joaopmatos@hotmail.com

Quanto valem 4000 euros?

Em reunião do executivo, a Câmara Municipal de Anadia (CMA) aprovou por unanimidade o aumento de 250 euros a cada uma das 4 candidaturas a serem aceites para usufruir de um apoio camarário à participação na ProWein. Um investimento total de 4000 euros. Mil euros para cada produtor.

Nesta feira em Düsseldorf, o aluguer de espaço para um stand de 6m2 é de 1722,80 euros. A este valor acresce o custo do stand, vinhos, viagem, transporte das amostras, hotel, alimentação, etc…

Que relevância têm estes 4000 euros? Faz sentido ajudar apenas 4 produtores? E se é verdade que 1000 euros ajudam, serão definitivos? Um produtor que precise de uma ajuda de 1000 euros para expor na ProWein, devia sequer lá ir? Que resultado traz para a autarquia e para a região esse investimento público de 4000 euros?

O dinheiro público deve ser aplicado em 3 vectores:

  • na prestação de serviços essenciais à população como o ensino, pagando salários aos professores; como a segurança, providenciando condições de trabalho para as autoridades policiais; como a saúde, contratando médicos suficientes para nos tratar com dignidade;
  • na protecção social dos mais desfavorecidos através do RSI ou do Abono de Família, em lares ou no subsídio de desemprego;
  • e em investimento, que por definição, tem de trazer algum tipo de retorno que de outra forma não existiria.

Tenho muitas dúvidas que estes 4000 euros tragam 1 cêntimo que seja de retorno. É bem-vindo pelos 4 produtores que o recebem, claro. Mas será que vão vender mais 1 garrafa que seja devido a esse apoio?

Não duvido da bondade do apoio da CMA. Mas questiono a sua eficácia económica – é dessa que estamos a falar e não da eficácia política.

Atrevo-me a propor uma ideia solta. Juntarem-se as câmaras da Bairrada e apoiarem a sério. Não apoiarem produtores em particular, mas a região da Bairrada como um todo, como uma marca única, aumentando-lhe a notoriedade (tal como sugere, por exemplo Mário Sérgio da Quinta das Bágeiras – Deus o conserve durante muitos anos, porque os seus vinhos não precisam de ajuda para sobreviver ao tempo).

A título de exemplo, por absurdo, se as Câmaras de Anadia, Mealhada, Oliveira do Bairro, Cantanhede e Águeda contribuírem com 4000 euros cada, ficam disponíveis 20000 euros. Já dá para comprar uma página inteira ímpar de publicidade na Decanter. É evidente que é má política de comunicação fazer apenas 1 anúncio publicitário isolado, mas por absurdo… não será mais eficaz?

Obviamente que antes de avançar para este tipo de acções publicitárias, é preciso antes consolidar todas componentes da marca Bairrada – e que evolução já foi feita, meu Deus! – e o novo nome para o espumante, mas isso é outro assunto, numa crónica futura.

Para enquadramento, o investimento total da ViniPortugal na promoção externa do vinho português em 2023 foi de 8,3 milhões de euros. Destes, o Estado apenas contribuiu com 2,4 milhões de euros. No total.

Aqui ao lado, o Estado espanhol investiu 45,8 milhões de euros. Dezanove vezes mais. Apenas em publicidade no estrangeiro. Além do resto. Para a Comunidade Autónoma de Castela e Leão foram 8,9 milhões de euros, mais do que todo o investimento da ViniPortugal. Só para a Região Demarcada de Rioja foram 5 milhões de euros, mais do dobro do investimento do Estado português na promoção de todo o nosso vinho.

E Espanha exporta apenas 3 vezes mais do que Portugal, quando tem 5 vezes mais área de vinha e 6 vezes mais produção.

Imagine-se o que poderia ser o sector do vinho português se houvesse um plano estratégico nacional para o vinho que justificasse investimento capaz.

E.T.: Adeus, Maria do Céu Antunes. Não deixa saudades.


Texto escrito ao abrigo do anterior acordo ortográfico, por vontade expressa do autor