Assinar

João Sousa

Troviscal

Saber esperar é uma virtude…

Passadas que estão as eleições para o poder autárquico democrático, uma das grandes conquistas do 25 de Abril, com o resultado previsto; enroladas que estão as bandeiras de casas diferentes que embelezaram as ruas das cidades, aldeias, feiras e mercados num simbolismo de Liberdade e Democracia, com fanfarras, gigantones e musica partidária, chamando a tudo isto a festa da democracia, e o entusiasmo nas caras dos candidatos que melhor ou pior se esforçam para melhorar a qualidade de vida das populações, que as necessidades do quotidiano as preocupa, olhando-nos por vezes com desdém, como gato escaldado que da água fria tem medo.

Sabendo que os deveres como contribuintes lhes é exigido como a cada cidadão, mas, ficando muito aquém os direitos que lhes são atribuídos, daí, o não participar em pleno no acto eleitoral que tanto custou no passado já longínquo, onde homens e mulheres deram a vida para que hoje o possamos fazer.

É que existem muitas razões para essa não participação cívica do eleitorado, se pensarmos um pouco em tudo o que tivemos de bom com a revolução de Abril, muito nos foi tirado para não empregar a palavra roubo, senão vejamos:

Um pilar essencial da economia, a agricultura familiar na sua sustentabilidade, proximidade de produtos de qualidade, ocupação e riqueza local, comércio local bem distribuído aquando do escoamento aos agricultores, riqueza interior, indústria também ecológica na sua pequena e média dimensão, postos de trabalho locais em que a máquina não substitui o homem, as grandes empresas estatais que sustentavam as anteriores em molde de sub-empreitada.

A educação na sua proximidade, em que as turmas dos alunos não ultrapassavam os limites como hoje.
A liberdade que insistia em produzir para as necessidades do país, o povoamento do interior, a circulação de pessoas e bens no comércio natural, digam-me lá se isto não era ecológico?

O direito à saúde na sua proximidade às populações, com inteira responsabilidade do Estado na satisfação dessa obrigação de cuidados primários de saúde, com brevidade na observação do doente, um à vontade em deixarmos as nossas portas da habitação escancaradas sem medo de roubo, o respeito mútuo que existia, uma actividade judicial que dando poderes às forças da ordem, GNR, PSP, guarda fiscal, poderes para resolução de pequenos conflitos, um tribunal em cada concelho funcionável quanto baste, mercados e feiras localmente valorizados que muito valor económico traziam às regiões. Será por tudo isto e muito mais, não valeu a pena acontecer Abril 74? Eu penso que sim. Pena é que muitos dos que nos governaram tinham ideia, têm-no hoje no retrocesso ao passado, com uma União Europeia que de social pouco tem para um punhado dos grandes interesses económicos, que nos impõem amarras nos saberes e querermos fazer, como tinha escrito há muito neste semanário, que respeito na sua pluralidade de ideias.

As eleições do dia 26 de Setembro mostraram-nos que o nosso povo ainda carece de educação política, roçando um pouco o preconceito ideológico, o seguidismo e quase a ingratidão em relação a certa força política que, apesar de não ter eleitos, tem mostrado ser adulto responsável, e construtivo, pois muito do que se tem feito neste concelho [de Oliveira do Bairro] e bem, tem o punho do P.C.P., e quem o tem governado não poderá negá-lo. Mas como diz o outro, faremos o contrário, ou seja: se não podes com ele junta-te a ele, mesmo sabendo de perdas significativas de eleitorado, nunca nos sentiremos derrotados pois quem luta por causas nobres e justas nunca se sentirá vencido.

Esperar é uma virtude e a médio e longo prazo, a nossa razão ao de cima virá.

Quanto ao chumbo do Orçamento de Estado para 2022, foi o mais responsável possível. O barco que embarcámos em 2015, com acordos estabelecidos com o PS, foram de pouca dura, agarrado que está aos grandes poderes económicos, aos ditames de uma União Europeia (dita social). Com o não cumprimento dos acordos entre nós, depressa a embarcação entrou em deriva, de um governo enfoado, achamos e bem o seu abandono na hora certa, por muito que alguns não compreendam as causas neste caso sociais, saúde, educação, leis laborais, como salário mínimo, contratação colectiva, negociações do contrato de trabalho, habitação, justiça, de reformas de carga miserável e por tudo isto digo…

Este amor à liberdade, em que nela quero e posso continuar a defender, tudo aquilo que foi nosso.
Texto escrito ao abrigo do anterior acordo
ortográfico, por vontade expressa do autor