Pelo que nos conta a Bíblia no Livro do Génesis, a Criação foi a base de uma boa organização do Universo, pois no início tudo era um caos, porquanto a Terra se apresentava informe e vazia e as trevas cobriam o abismo. O Espírito de Deus movia-Se sobre a superfície das águas (Gén. 1, 1-2).
Na verdade, assim parece, vislumbrava-se um mau começo que nem poderemos nunca entender, mas aceitamos pela Fé que o Criador pôs tudo na ordem com uma missão peculiar, adequada e atribuída a cada ser criado.
Feita a ordenação de tudo, foi também congeminada a formação do Homem, o qual iria usufruir toda a maravilha criada. Aparecido à imagem de Deus, logo ele se deixou seduzir por uma voz traiçoeira, sujeitando-se, assim, a perder, inconcebivelmente, o seu estado de paz tão augusto.
E o Universo continuou aos solavancos, ainda que conhecendo aqueles valores que a todos iam envolvendo.
Porém, os humanos, em vez de progredirem, bem rápido começaram o grande recuo por causa do desnorteamento moral, afundando-se num entorpecimento quanto à aceitação dos critérios que poderiam levá-los à plena e autêntica felicidade.
Começou a acontecer, portanto, o contrário do que foi a grandeza da criação do Homem.
Este foi-se descobrindo a si mesmo, paulatinamente, mas quis assumir uma convicção pessoal de se considerar quase o dono ou criador do mundo.
Pelo contrário, decerto descobriu a sua pequenez, mas continuou a tentar equilibrar-se nas afirmações de superioridades intelectuais e anímicas de modo a julgar-se autor e senhor de todas as coisas. Daí que, agora, ponha de lado, e cada vez com mais aspereza, o Deus Criador, para dar lugar aos seus egoísmos e vontade de calcar a seus pés tudo quanto lembre o verdadeiro sentido da Criação.
E nós vamos sendo, hoje, embrulhados no fingimento de tudo sem querermos entender com frontalidade que o Universo está a caminhar a passos largos para o estado caótico em variadíssimos sectores que seriam fundamentais num crescimento humano harmónico e sadio. Todos têm o direito de pensar livremente, mas nem a todos lhes acresce o mínimo para subentender uma liberdade, mal compreendida, contra os indefesos por natureza.
A juventude (nem toda) cresce sem meditar e sujeita às intempéries intelectuais e morais que alguém lhe quer impor, deixando-a longe de uma análise criteriosa e reluzente sobre tudo quanto é importante no desenrolar da sua idade tenra. Os mais idosos, esses, vão recordando as vivências antigas, mas apenas, e como resposta, enfrentam a dúvida, o desdém e o sarcasmo de quem muito tem desprezado na sua própria existência. Deste modo, reina sempre o vazio das consciências e vontades, fazendo o mundo regredir de forma assustadora.
Hoje, faz-se crer que ninguém pode afirmar quem é individualmente. Cada qual está já escondido, não numa concha, mas em peculiar e grande prosápia.
Como pilar da sociedade deveria estar a família, mas ela já quase se vai posicionando num segundo plano sem que se vislumbre a solução para os cérebros esvaziados por culpa de todas as políticas desenfreadas que fomentam o hedonismo em vez de provocar a visão da verdade do Homem.
A segurança pessoal ou colectiva é nenhuma e sobre nada. Poisam em todas as veredas a desconfiança ou o medo. Há agressões e morte, rapinas e devastações. Até o homem não parece conhecer-se, verdadeiramente, e nascem crianças que jamais saberão distinguir o pai da mãe e vice-versa.
As casas deixam de ser habitadas pela exorbitância de preço do seu aluguer e, assim, progride o número dos sem-abrigo.
Quando vemos os mais novos a tentarem descobrir a vida com as pontas dos dedos e não com seus olhos inteligentes e límpidos e todas as demais atitudes vivenciadas a nosso lado, então, acabaremos por concluir que o Universo já está mesmo a cair no caos.
Que nos salvemos de tal precipício.