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Manuel Armando

Padre

Será que o Papa manda nos padres?

Será mesmo que o Papa manda nos padres de modo que todos tenham de fazer tudo quanto ele pensa e diz?

Para uns determinados grupos parece que a voz do “servo dos servos” da Igreja explode como pólvora ressequida e oprimida em caixote bichoso e podre. Ele, humana e intelectualmente, tem a sua maneira de ser e pensar, mas as palavras e reflexões em determinados momentos concretos levam a uma certa exacerbação nas pessoas, sobretudo naquelas cuja prática do seu catolicismo é diminuta ou nula. Assim e por isso, rebentam em gritos de insatisfação os recados habituais, retratos acabados de consciências intranquilas por nada serem nem fazerem.

Lê-se ou ouve-se em diversas ocasiões: «senhores padres, ouçam o que diz o Papa e façam o que ele manda porque muita gente está a afastar-se da Igreja, por os responsáveis das comunidades andarem de orelhas moucas».

Ora, convém frisar neste contexto que o cumprimento é aconselhado a todas as pessoas e não apenas a quem dirige essas mesmas comunidades.

Atentemos, porém, à dimensão das coisas, porque o Papa não manda nos padres de todo o mundo. Em cada Diocese há um Bispo e este é que orienta, mais ou menos bem, o seu clero. O Papa é o Bispo de Roma e concomitantemente “acumula”, é certo, o ser chefe da Igreja Católica Universal, mas em concordância e unidade com os seus pares do Episcopado.

No seu encargo ele terá de pôr em prática, como compromisso, o desejo de Jesus, confiado ao Apóstolo Pedro: …«Eu pedi por ti para que a tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos» (Lc.22/32).

Pedro, o primeiro responsável pela Igreja de Jesus Cristo, foi incumbido de, com cuidado zeloso e exemplo, confirmar e consolidar a fé dos seus companheiros.
Fiéis a este conselho e apesar das dificuldades, convulsões e provações tormentosas por que a Igreja tem passado, ao longo dos séculos, continua o Papa a procurar atear o amor de Jesus Cristo nas crianças, nos jovens e adultos. A todos prossegue em convidar a não terem medo nem vergonha de se afirmarem pessoas de fé segura no Deus, infinitamente bom e misericordioso. Isto é, pois, ajudar todos os indivíduos a converter a sua vida pessoal e comunitária num encontro vivo com Deus, em todos os locais e tempos.

A palavra do Papa, fortalecida na sua comunhão com Deus é, portanto, um apelo constante à tal procura desse Deus e ao fortalecimento da fé e da esperança na busca, encontro e vivência da caridade praticada.
O Papa, nesta preocupação de pastor, dirige-se a TODOS, homens e mulheres do mundo, para encaminharem os seus passos na aceitação e no exercício da Verdade de Jesus Cristo.

A palavra humana será do Papa, todavia, a chamada é do Deus, nosso Pai. Mas, para TODOS e não unicamente para os sacerdotes. Estes deverão ser “alter Christus” na condução das comunidades, onde o Bispo não pode executar a sua missão específica, uma vez que lhe é impossível estar com a assiduidade física que lhe seria peculiar.

Os tempos passam e, em acontecimentos relevantes, é forçoso ouvir recomendações e doutrinações, ainda que seja mais fácil empurrá-las para os outros, pensando cada um, de si para si, que quanto é dito só deve atingir o acusado de alguma negligência ou autoritarismo.
Vejamos que o Papa tem o compromisso impresso na sua missão de incentivar, confirmar a fé, a paz, a esperança, o amor em TODOS e, TODOS, padres e leigos, deverão percorrer caminhos de conversão, unidade, confiança e lealdade mútuas. Ninguém é pecador sozinho e também nenhum fiel se salva individualmente, usando só as suas frágeis forças humanas. É preciso e urgente todos escutarem porque lhes cabe a responsabilidade de reagir com uma resposta assertiva, pessoal e honesta.