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Manuel Armando

Padre

«Também quero ser “alcoólico”»

Não, não é o que o leitor está naturalmente a pensar. Nem se imaginem epidemias virais e outras coisas estapafúrdicas ou meras doenças psicológicas. E, menos ainda, alguma contaminação hereditária que haja passado barreiras e tenha seguido de pai para filho.

É, todavia, uma expressão singela e humilde de inocência que define bem o desejo de alguém se inebriar nos encantos da descoberta de uma luz que atrai, sendo ela irradiada pelo exemplo do desempenho de outros.

É, por isso, apenas um extracto da vida infantil quando se começam a delinear e consignar projectos ou sonhos que, frequentes vezes, despertam a ocasião de preparar o futuro com algumas conjecturas do quanto virá a acontecer, exigindo dos mais adultos uma atenção pormenorizada num acompanhamento adequado e sério.

Ora, o gaiato via o empenhamento de alguns coleguitas mais crescidos, ouvia o apelo das catequistas para o mesmo efeito e começou a sua natural curiosidade a extasiar-se em ardente compromisso pessoal interior, antevendo uma actividade diferente e que traria um certo grau elevado de felicidade por poder ser útil em alguma coisa. Andava atento ao comportamento dos companheiros na Escola e no Desporto. Era gostoso observar o arregalar dos seus olhos para o que se desenrolava à sua volta, todos os dias. Tornara-se um observador solícito e então, “como quem não quer a coisa”, diz com a sua convicção infantil: – «Eu também quero ser “alcoólico”».

Lá lhe explicou a catequista que os outros meninos eram “acólitos” – o que ele ansiava ser também.

Continuou a ouvir e a entender o que significava servir o altar na Liturgia, servir o altar e ser membro cooperante dentro da comunidade, útil aos demais que professam a sua fé num Senhor ressuscitado e presente na Palavra e no Sacramento.

Ponto de partida, igualmente para cada um de nós meditar sobre a grandeza de nos pormos ao serviço e cuidado dos nossos irmãos em tudo que seja viver como pessoas.

Acólito poderá ser aquele que acompanha, ajuda, acolhe, serve, está com atenção a tudo quanto deve apresentar, construindo assim a realidade de comunidade onde qualquer um terá de desempenhar o seu múnus com a consciência de não vegetar como um inútil.

O acólito é, digamos, um cireneu que vai aparecendo nas diversas etapas e circunstâncias da vida daqueles que precisam de sentir o ombro do seu semelhante.

E, com verdade, na trapaça que, hoje, parece procurar engolir a humanidade, há uma necessidade imperiosa de todos darmos as mãos, ajudando-nos mutuamente e aproveitando todas as capacidades que exornam os cireneus autênticos que servem, em pratos de paz, a colaboração voluntária, consciente e cristã.

Certamente com a segurança no que se faz, no testemunho pessoal e convicto, o coração humano deverá transformar-se, dando uma ambiência alegre e feliz a quem se deixa inebriar pela maravilha que é a fraternidade posta ao vivo em quaisquer ramos da presença e convivência humanas.

Ser, pois, acólito, repitamos, é alicerçar uma vida diferente e mais fraternal.