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Manuel M. Cardoso Leal

Historiador

Todos temos de arregaçar
as mangas

A eleição autárquica no concelho de Anadia suscitou um interessante artigo do Eng. Sampaio na perspetiva do MIAP, «Arregacemos as mangas»; o que por sua vez me suscita este artigo na perspetiva do PS. Faço-o sem polémica, pela elevada consideração que merece o seu autor e porque em democracia há sempre perspetivas diferentes. Por muito boa que seja uma situação, os recursos não chegam para tudo e alguma coisa fica para trás. E cabe à oposição apresentar prioridades alternativas.

As duas perspetivas convergiram na eleição de 2017, quando os votos do PS ajudaram à que foi a maior vitória do MIAP. Se em vez de se comparar com 2013, como faz no artigo, se se comparasse com 2017, a vitória de 2021 não seria tão gloriosa, pelos amargos que trouxe, tais como a perda de 2230 votos e a perda da presidência em três freguesias. Isto, sem querer deslustrar a vitória do MIAP, pela qual o felicito.

Depois de ter estado diretamente envolvido nas eleições de 2005 e 2009, segui apenas à distância a eleição de 2013, na qual o MIAP iniciou o seu ciclo absorvendo votos sobretudo do PSD e do PS, bem como a de 2017, na qual o PS participou integrado no MIAP ao abrigo de um qualquer «acordo», atestado pela presença de destacados dirigentes seus nas listas da Câmara e da Assembleia Municipal, além de outros membros nas listas das freguesias. Escapou-me a lógica do PS nesta eleição de 2017, sobre a qual diz o Engº Sampaio, preto no branco, que «o PS não concorreu», o que significa, se bem interpreto, que não houve acordo nenhum. Com o tempo, de facto, já se tornara evidente que o PS, o maior partido nacional, simplesmente desaparecera da vida política do concelho de Anadia.

Claro que a experiência não se poderia repetir. Já no ano passado, entre alguns inconformados e alguns eleitos pelo MIAP que não deixaram de cumprir lealmente os seus mandatos, uma nova comissão concelhia do PS apontou para o objetivo de tornar a apresentar uma candidatura própria. E partindo do zero, com muitos militantes zangados e alguns ainda incluídos no MIAP, o PS renasceu e arranjou listas para todos os órgãos autárquicos e em todos ficou representado, salvo em duas freguesias.

Nestas condições ingratas, seria difícil esperar melhor resultado, o qual, apesar de tudo, equivale ao de 2013, com a diferença de que então o PS estava em quebra e agora está numa dinâmica de crescimento. E equivale também ao resultado de 1985, de 13%, ao qual se seguiu um salto para 32% em 1989, a mostrar que são possíveis boas recuperações. Para já fizemos o que devíamos fazer. E tivemos até a agradável surpresa de obter a adesão de muita gente nova, com boas ideias e asas para os desafios futuros, incluindo muitas senhoras, algumas à frente das listas.

«Arregacemos as mangas» é um mote que se aplica a quem venceu e deve assumir as responsabilidades daí decorrentes, mas também a quem perdeu e deve exercer oposição preparando-se para afinar as propostas que deverá apresentar à escolha dos eleitores. Nada é imutável: quem está no governo deve lembrar-se que pode ir para a oposição; e quem está na oposição deve aspirar a chegar ao governo. É com este espírito que estamos de regresso, prontos para afirmarmos o nosso potencial de governo do concelho. Afinal, o PS exerce e/ou exerceu funções de governo na maioria dos concelhos do país e trabalhamos para que os eleitores do nosso concelho nos confiem igual responsabilidade. Porque o PS faz falta a Anadia.