A idade vai galgando para toda a gente e, consoante ela avança, o corpo ressente-se de um modo abrupto e, por vezes, nem a própria pessoa se dá conta da diminuição geral das faculdades físicas e anímicas que foram de alguma pujança, mas que, inexoravelmente, ficam agora para trás sem haver nenhuma hipótese de recuperação possível.
Essa noção de enfraquecimento deveria ser aproveitada para gestos altruístas de testemunho positivo exemplar, fundados numa experiência séria de vida, difícil ou fácil, mas cheia de vitórias e fracassos.
Tudo poderia presumir-se como muito natural, todavia, verifica-se que muitos dos homens se agarram, em primeiro lugar, à sua animalidade perversa para não deixarem cair das mãos um naco de poder que julgam durar para sempre, o que é um clamoroso engano.
Matuto, nas minhas poucas horas vagas, sobre a fraqueza e efemeridade dos lindos sonhos pessoais que dão sabor à luta por uma vida melhor e digna, mas durante a qual não podemos esquecer que nada nos pertence por direito próprio. Somos, com efeito, administradores de coisas boas e o verdadeiro dono virá fazer-nos compulsar o modo de utilização que aproveitámos.
Aí reside o busílis da nossa humanidade transitória.
O dever, assumido e cumprido, terá de ser a extrema razão para uma tranquilidade que desejamos.
Decerto nos consciencializamos, no decurso do nosso crescimento, das tarefas que nos foram atribuídas.
Contudo, se omitimos a renovação constante dos propósitos que nos situam no lugar devido da sociedade a que pertencemos, corremos o risco de, ao querermos agarrar o último reduto das capacidades, cair na desgraça do desrespeito pela vida, a nossa e a dos outros.
Olhando, com indignado pesar, o mundo em que vivemos, perguntaremos quais os narcóticos, calmantes, ópios, serenais, estupefacientes, tranquilizantes, alcaloides ou outros soporíferos que darão o sentido de alienação a quaisquer senhores que se dizem grandes e donos do universo de lugares e pessoas sobre quem querem mostrar direitos absolutos.
Como será possível imaginar consciências tranquilas naqueles que mandam matar milhares e milhares de pessoas inocentes, cuja morte não serve nunca para expiar o pecado colectivo da sociedade?! Casas destruídas, vidas estranguladas, famílias desfeitas, natureza conspurcada, gente sem rumo nem futuro.
Como serão capazes esses tais mandões de dormir e viver em descanso quando têm a noção do que fazem e levam a fazer?!
Tomam, de certeza, a todo o momento, o estupeficante mais forte e adequado para se alaparem sob um estado de estupor humano animalesco sem perdão da comunidade, nem de Deus a Quem desconhecem e não amam. Vegetam com a cabeça enfiada na almofada da tranquilidade diabólica e, por causa de uma infeliz e universal indiferença, nada ou ninguém os acorda.
