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Carlos Vinhal Silva

Anadiense

Uma memória seletiva é de má memória

A vida tem os seus quês de fantástica realidade. A memória é um desses pontos tão cativantes e que tanto interesse nos suscita, permite que recordemos inúmeros acontecimentos e pessoas, mesmo aqueles que, por qualquer motivo, queremos não nos lembrar. E muitas vezes esta memória que desejamos seletiva não tem qualquer motivo para que assim seja: frequentemente escolhemos não recordar qualquer coisa por capricho ou mesquinhez, porque o nosso ego é tão inflamado que tememos que a mera lembrança desses acontecimentos ou pessoas (especialmente estas últimas) o recoloquem no devido lugar da sua insignificância. Outras vezes, acontece o seu contrário e escolhemos recordar e enfatizar determinados eventos e indivíduos apenas porque acreditamos obter algum benefício ou porque se coaduna com os nossos objetivos ideológicos. A memória nunca é boa quando é puramente seletiva!

Não falamos de celebrar esse acontecimento ou erguer uma estátua ou um monumento em honra de determinada pessoa. Apenas desejamos que não se caia na tentação de ignorar ou desprezar quem quer que seja em nome de uma cegueira que se encontra profundamente enraizada no ódio que nutrimos e dizemos negar. Todas as pessoas têm o direito a ser recordadas não por aquilo que desejámos que fossem, mas por aquilo que verdadeiramente foram ou são, filhos de alguém, irmãos de alguém, esposos de alguém, pais de alguém, avós de alguém. Mais ainda se foram tanto para quem não eram nada se não um rosto conhecido, um professor, um padeiro, um barbeiro, um médico, um advogado, um presidente de junta ou de câmara e que se doaram à comunidade como poucos o fariam.

Recordemos todas essas pessoas que alguém deseja apagar da história e erradicar da memória coletiva para garantir que esses indivíduos que atuam desde os píncaros do seu ego inflamado sem motivo algum caiam na crua realidade do seu fracasso. Uma memória seletiva é de má memória para quem contribuiu para a história e para o bom nome da sua comunidade. E se a alguém servir a carapuça, usem-na… pode ser que assim ninguém vos descubra a careca.