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Águeda // Bairrada  

Complexo Social da ABARCA recebe nome do comendador Almeida Roque

 

“A cada dia que passa estou mais rico porque me dão muito mais do que aquilo que eu mereço.” Foi com estas palavras que o comendador António Almeida Roque agradeceu, no último sábado, a homenagem que a ABARCA (Associação Barroense Recreio, Cultura e Assistência) lhe prestou, atribuindo o seu nome ao Complexo Social.
A ABARCA, instituição da qual é fundador e benemérito, decidiu atribuir o nome do comendador António Soares de Almeida Roque ao seu Complexo Social, como forma de homenagear este filho da terra que tem passado a vida a ajudar e apoiar uma lista infindável de associações, colectividades e causas sociais e humanitárias não só no concelho, como na região e distrito.

Obelisco. A homenagem surgiu no âmbito dos 30 anos da ABARCA. E, de facto, este 30.º aniversário foi assinalado com chave de ouro ao ser reconhecido o seu maior benfeitor, até porque a instituição só existe porque António Almeida Roque, por altura da formatura da sua filha Maria Antónia, decidiu oferecer o terreno Chão da Senhora para a implantação de uma obra social na freguesia.
Para além da generosa dádiva, o comendador suportou os custos da construção, nomeadamente de toda a estrutura em betão. A obra nunca mais parou de crescer, sendo, hoje, uma referência no concelho e na região.

Acto simples e singelo. Na oportunidade, Victor Cardoso, da ABARCA, recordou aos muitos conviados presentes que sendo o comendador um homem avesso a homenagens, teve a direcção da ABARCA a árdua tarefa de o abordar e convencer a aceitar a homenagem o que veio a acontecer ao final de algumas conversas com o compromisso para que fosse um acto simples e singelo.
Convicto de que o comendador merecia “muito mais e melhor” teve a direcção que aceitar essa vontade do homenageado que, no último sábado, descerrou o seu nome no obelisco que figura à entrada da instituição, em Barrô (Águeda).
“A direcção agradece-lhe do fundo do coração, pois o comendador tem aqui [na instituição] o seu coração”, disse ainda Victor Cardoso.

Espalhando generosidade. Também Raul Martins, em representação da Assembleia-geral e 1.º presidente eleito da ABARCA, recordou “porque não perco referências, nem memórias” os “ilustres conterrâneos”, que já partiram, mas ajudaram a obra a ser o que hoje é.
E, foi com a frase “Quem na vida distribui flores encontrará necessariamente os caminhos perfumados” que começou a falar do homenageado que ao oferecer o terreno Chão da Senhora “lançava um desafio” aos barroenses. Por isso, as suas palavras de “profunda gratidão”, numa homenagem que não é mais do que “um justo reconhecimento à gratidão que o senhor tem direito”, não só por ser fundador e sócio número um com categoria de mérito da ABARCA, mas porque a sua colaboração e generosidade se prolongaram no tempo: doação do terreno e contribuição com somas avultadas para o arranque da obra.
“Curvo-me perante o seu exemplo de trabalho, solidariedade, altruísmo e afectividade” porque, como ninguém, soube “construir pontes, em vez de fortalezas”. Um benemérito e benfeitor que não ficou confinado à freguesia que o viu nascer, espalhando generosidade por todos os cantos.
Aproveitando a ocasião, Raul Martins recordou as necessidades actuais da terceira idade que vão muito para além do tradicional conceito de Lar e de Centro de Dia. Por isso, falou da necessidade imperiosa de se partir para a construção de um Centro Residencial Assistido, um prolongamento das casas dos idosos; assim como de um Centro de Noite que apoie idosos com autonomia que necessitem de rectaguarda durante a noite e de um Centro de Acolhimento Temporário de Emergência. Isto porque, no seu entender, “os idosos mais carenciados de Barrô precisam de todos nós”, lançando um repto não só ao comendador, mas também a todos os presentes.
Ausente no estrangeiro, o autarca Wilson Gaio deixou algumas palavras no âmbito da homenagem e do 30.º aniversário da instituição, destacando não só aqueles que, de uma forma desprendida e solidária, contribuíram para o crescimento da associação, mas destacando, neste dia de alegria, o facto de se “fazer justiça a um barroense sempre disponível a colaborar com obras sociais”.
De igual forma, a vereadora Elsa Corga, da Câmara Municipal de Águeda, felicitou a instituição pelo aniversário e o comendador por tudo o que tem feito pela mesma. “É justo e pertinente que se reconheça o belíssimo trabalho que fez”, numa instituição marcada pelo rigor e qualidade no trabalho que desenvolve. Por isso, a necessidade de nos dias que correm se continuar a ir ao encontro das necessidades: “é preciso parar e analisar o ponto onde estamos e ver para onde queremos ir”, acrescentou.
Liliana Ferreira, adjunta do Governador Civil de Aveiro, reconheceu que o comendador Almeida Roque leva o nome de Barrô e do distrito bem longe, considerando-o uma “pessoa do povo para servir o povo”.

Missão de bem fazer. Aos 92 anos, o comendador Almeida Roque, num discurso marcado pela emoção, pediu que ninguém lhe agradecesse nada. “Cumpro apenas uma obrigação”, disse, com uma lágrima no canto dos olhos. E porque cedo se habituou a conhecer a miséria [foi pela mão da sua querida professora primária, Hortência Batista, que aprendeu o significado e o sentido da generosidade, da partilha e do bem fazer] e a combatê-la. “Foi ela que me meteu este vício, me vocacionou para esta missão.”
E, de facto, foi com 17, 18 anos que começou, ainda muito jovem, a calcorrear as ruas de Barrô na missão de ajudar os mais carenciados e desprotegidos da sociedade.
Aproveitando a ocasião agradeceu e deixou algumas palavras de carinho para com os amigos Victor Rosa “ele como eu é um defensor da verdade”, Vírgilo Cardoso “2.º presidente da ABARCA e um homem que sabe abrir a boca quando os outros ficam calados”.
Ainda durante a homenagem o comendador disse pedir a Deus “um dia de cada vez para continuar a ser mais útil aos outros”.

Catarina Cerca