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Anadia // Bairrada  

Anadia: Marcha lenta mobiliza perto de uma centena de viaturas

 

Perto de uma centena de viaturas saiu à rua, na tarde do último domingo, em Anadia, numa manifestação de repúdio face às mexidas que determinam a fusão de freguesias no concelho, envolvendo oito freguesias, embora a extinção seja apenas de cinco. Das 15 freguesias atuais, o concelho terá, futuramente, apenas 10.
Numa tarde brindada pelo sol e de ânimos quentes e nervos à flor da pele, muitas eram as vozes populares de revolta e indignação face à fusão de freguesias. Autarcas, população anónima, presidentes de Câmara Municipal e da Assembleia Municipal não faltaram ao protesto.
Luís Santos, presidente da Assembleia Municipal, diz tratar-se de uma questão de “suma importância”. “Esta é uma manifestação de repúdio dos autarcas do concelho face ao que nos pretendem impor”.
Ciente de que a marcha lenta causaria alguma perturbação no trânsito, avançou esperar que “os deputados e governo entendam a mensagem”, dando ainda a indicação de que, durante esta semana, serão entregues oito providências cautelares (uma por cada freguesia) contra a agregação.
Para Litério Marques, presidente da Câmara Municipal de Anadia, “esta é uma forma de mostrar o nosso sentimento de revolta em relação àqueles que hoje vivem à nossa custa e ainda querem, por cima, gerir as nossas comunidades”, referiu, lamentando que este governo PSD (cor que sempre dominou no concelho de Anadia) “desde que entrou, esteja a retirar a Anadia, permanentemente, o que nos pertence e a vários níveis”. Por isso, equaciona a realização, no concelho, de forma mais localizada, de “novas e mais concretas formas de repúdio e contestação”, ainda que sem as especificar.

Voz aos autarcas. Um dos autarcas mais contestatários, José Lagoa, de Aguim (freguesia a unir a Tamengos, juntamente com Óis do Bairro), diz sentir-se “dececionado”. “Lutei 19 anos pela democracia, e agora somos governados por garotos, coladores de cartazes”, lamentou. Também o autarca de Mogofores (freguesia que segundo a Unidade Técnica deverá fundir-se com Arcos) era o rosto da tristeza e desânimo: “estão a tirar a identidade às pessoas”, dando conta que se perdem “os serviços de proximidade”.
Indignação em Am. Gândara. A maior contestação no processo de Reorganização das Freguesias parece estar na “União das Freguesias de Amoreira da Gândara, Paredes do Bairro e Ancas”, uma vez que a Unidade Técnica propunha que se assumisse, a nível nacional, a freguesia titular como sede da nova freguesia a criar.
Agora, para espanto do autarca de Amoreira da Gândara, é indicado em nova documentação que da “União das Freguesias de Amoreira da Gândara, Paredes do Bairro e Ancas” a sede será Paredes do Bairro.
Por isso, Filipe Nogueira, secretário daquela JF, considera estranho que a sua freguesia tenha sido preterida, a favor de Paredes do Bairro para sede da nova freguesia. Também o autarca Joaquim Cosme questiona: “temos mais população, mais área, mais emprego e uma nova sede da JF em fase de conclusão para quê?”.
Acontece que nos documentos a que JB teve acesso (Projeto de Lei n.º 320/XII/2ª) da reorganização Administrativa do Território das Freguesias situações semelhantes acontecem, por exemplo, em Aveiro, na União das Freguesias da Glória e Vera Cruz, sendo proposto para sede Vera Cruz; na União das Freguesias de Requeixo, N.ª S.ª de Fátima e Nariz, prevendo-se para sede N.ª S.ª Fátima e em Águeda, na União das Freguesias de Belazaima do Chão, Castanheira do Vouga e Agadão, será sede Castanheira do Vouga.
Acrescente-se ainda que a concentração teve lugar na ZI de Anadia e percorreu as estradas entre Grada, Alpalhão, entrando no IC 2, até ao limite do concelho, na freguesia de Avelãs de Caminho. Das 15 freguesias não participaram no protesto as freguesias de Arcos, Vilarinho do Bairro, Óis do Bairro, Avelãs de Caminho e Moita.
Segundo Luís Santos, no âmbito da ação agendada pela Associação Nacional de Freguesias, também os autarcas e população de Anadia irão, no dia 5 de janeiro de 2013, em frente ao Palácio de Belém, cantar Os Reis, a Cavaco Silva, de forma a suscitar a reflexão do Presidente da República perante a promulgação da Lei em causa.

Catarina Cerca
catarina@jb.pt