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Anadia // Bairrada  

Teresa Cardoso é a primeira mulher na presidência da Câmara Municipal de Anadia

Teresa Cardoso vai ficar para a história no município de Anadia. É a primeira mulher, na história da democracia em Anadia, a liderar o executivo da Câmara Municipal. Candidata pelo também inédito Movimento Independente (MIAP) foi a grande vencedora do ato eleitoral de domingo, ao arrecadar 41,42% dos votos para a Câmara Municipal, contra os 31,48% alcançados pelo seu mais direto adversário, José Manuel Ribeiro, candidato pelo PSD.

Era com grande expetativa que se aguardavam os resultados das autárquicas no concelho de Anadia. Pela primeira vez, na história da democracia, surgiu na corrida aos órgãos autárquicos um Movimento Independente (MIAP) e pela primeira vez também, na história do concelho, foi eleita uma mulher para presidente da Câmara.
Sob o espectro da abstenção, que rondou os 45,84%, a noite de domingo foi de muita festa na sede do MIAP (Movimento Independente Anadia Primeiro).
À medida que se iam conhecendo os resultados, a festa subia de tom. O Movimento saiu vitorioso na maioria das frentes: venceu para a Câmara Municipal, obteve maioria na Assembleia Municipal e conquistou sete das dez Juntas de Freguesia.
Feitas as contas, para a Câmara Municipal, o MIAP terá de repartir os três lugares da vereação com o PSD, enquanto que o PS perde um dos dois vereadores que tinha até agora.
Neste ponto, e face ao “empate” entre o MIAP e o PSD, será o PS, por ironia do destino, o partido que poderá “desempatar” no executivo. Isso mesmo foi admitido pelo candidato Lino Pintado: “o PS teve um resultado muito mau. Mas, a verdade é que nunca mandou tanto em Anadia, como agora”, frisou.
Para a Assembleia Municipal, o MIAP alcançou a maioria: conseguiu eleger 9 deputados, mais 7 presidentes de Junta de Freguesia, que perfazem 16 elementos; contra os 15 de toda a oposição (8 deputados do PSD a que se somam 3 autarcas eleitos por este partido); três deputados eleitos pelo PS e apenas um pelo CDS/PP. A CDU deixa de ter assento na Assembleia Municipal, uma vez que não conseguiu fazer eleger qualquer deputado.
Comparativamente a 2009, este órgão legislativo também assiste a alterações significativas.
O PSD volta a ser o grande derrotado. Dos 52,78% alcançados em 2009, obteve agora 31,22%. Também o PS desceu. Em 2009 obteve 25,84% e agora 15,04%. O CDS/PP e a CDU seguiram a tendência. Os centristas, em 2009, tiveram 10,79%; agora 4,29%. A CDU caiu dos 6,13% para os 3,64% e perdeu o único deputado que tinha na Assembleia Municipal.

Lágrimas e abraços. Entre sorrisos, beijos, abraços e lágrimas, numa sede de candidatura a abarrotar de apoiantes, Teresa Cardoso era o rosto da felicidade, na noite do último domingo.
“Foi uma vitória justa”, disse. “Uma vitória minha, mas também de todas as equipas que comigo partilharam este percurso e deram o seu melhor numa campanha que marcou a diferença, pela dignidade com que se apresentou e soube estar, pela clarificação dos seus projetos e das suas ações”, sublinhou Teresa Cardoso, acrescentando estar “grata a todas as pessoas que em nós confiaram, que reconheceram o nosso trabalho e dedicação, com honestidade e seriedade nas ações, e que nos deram o seu voto de confiança”.
Teresa Cardoso realçaria ainda este novo percurso do município: “o símbolo dos independentes, que desprovidos de quaisquer símbolos ou cores, disseram que para Anadia querem o melhor”.
Por fim, mostrou-se feliz por ser a primeira mulher a ser a escolhida para liderar a Câmara Municipal durante os próximos quatro anos.
Na ocasião, o mentor do MIAP, Litério Marques, era um homem eufórico. “Ganhamos em todas as frentes. Ganhamos uma grande presidente de Câmara. Teresa, conta comigo como eu contei contigo todos estes anos”, diria, durante os festejos da vitória.
“Os resultados são inequívocos” e, em resposta ao histórico do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, que durante o almoço de candidatura de José Manuel Ribeiro terá dito que Litério Marques se tinha servido do PSD, frisou: “Hoje, os resultados alcançados são a prova evidente que a equipa de Litério Marques não precisa do PSD para nada.”

Desilusão do PSD. Do lado do PSD, este é um resultado que o candidato à Câmara Municipal e presidente da Concelhia, José Manuel Ribeiro, não esperava. O objetivo, admite, “era ganhar, mas a democracia é isto mesmo e o povo de Anadia decidiu em sentido contrário”, afirmou ao JB, quando já eram conhecidos os resultados finais, congratulando os vencedores.
José Manuel Ribeiro irá, “naturalmente”, assumir o lugar de vereador. “O povo de Anadia entendeu que eu devia fazer oposição e iremos fazer uma oposição construtiva, com os olhos postos no desenvolvimento de Anadia e nos anadienses.”
O candidato do PSD assume a derrota política “em toda a plenitude”, uma vez que, diz, “fui eu que liderei este projeto”.
O PSD vai ter no executivo o mesmo número de vereadores que o MIAP: três. José Manuel Ribeiro recusa, no entanto, a ideia de que a Câmara de Anadia seja ingovernável neste mandato, pelo menos na parte que couber ao PSD. Por isso, frisa que o PSD irá fazer “uma oposição construtiva, mas não deixaremos, nos momentos em que seja necessário, de afirmar a nossa posição, de afirmar as nossas linhas orientadoras e sempre que o executivo eleito não corresponder ao melhor para Anadia, não deixaremos de maneira veemente mas construtiva de fazer a oposição que nos coube neste processo”.
Voltar a candidatar-se à Concelhia do PSD local é uma questão que não se coloca agora. “Queremos avaliar de forma muito profunda os resultados.” Quanto a ser novamente candidato dentro de quatro anos, é igualmente cenário que não coloca neste momento. “O tempo o dirá. O PSD chegará a esse momento e escolherá a pessoa que estiver mais bem colocada para voltar novamente à batalha das eleições.”

PS com pior resultado. A candidatura de Lino Pintado tinha colocado bem alto a fasquia para estas autárquicas, mas o candidato socialista – na corrida à Câmara pela terceira vez – não foi além dos 13,82% dos votos. Caiu 11,82%. “Fui um dos grandes derrotados do dia e mais uma vez ficou patente que o PS não conseguiu atingir os números que pretendia.”
No rescaldo do ato eleitoral, o candidato, para além de endereçar parabéns aos vencedores (MIAP), na pessoa da sua cabeça de lista Teresa Cardoso, refere que em Anadia se registou o “efeito Litério Marques”, assumindo a responsabilidade pelo mau resultado eleitoral. Para o candidato do PS, a vitória do MIAP “foi à custa da perda de todos os partidos, incluindo o PS. Foi uma grande derrota para todos os partidos, veja-se o caso do PSD”. Lino Pintado confessa não “contar com este resultado, com a perda de um vereador, mas temos que o aceitar com elevado espírito democrático”, reconhecendo que o resultado do MIAP demonstra a popularidade de Litério Marques, “transversal ao panorama partidário”.
A terminar, diria ser chegada a hora de refletir e depois agir em conformidade, até porque, dada a distribuição de vereadores, “o PS poderá ter a importância que nunca teve nos destinos da governação da Câmara de Anadia”.

Minorias com menos expressão. O dia 29 de setembro foi também negro para o CDS/PP e para a CDU.
O CDS/PP, que nas anteriores autárquicas obteve 9,32% dos votos (1545 votos) com a candidata Maria do Céu Castelo-Branco, agora, com o filho desta, João Tiago Castelo-Branco, presidente da Concelhia Centrista e líder da bancada do CDS/PP na Assembleia Municipal, não foi além dos 3,61% dos votos (556 votos).
Apesar dos esforços, JB não conseguiu obter uma reação do candidato a este resultado eleitoral.
Para a CDU o saldo também não podia ser mais desolador. A candidata à Câmara, Fátima Flores, não foi além dos 476 votos (3,09%). “Um pouco por todo o lado se verificou que os denominados independentes, que ganharam projeção quando integrados nos seus partidos de origem, incorporando em nome deles a gestão dos vários órgãos autárquicos, a utilizaram, agora, para protagonizarem uma «alegada» alternativa e uma «mal disfarçada» independência face a esta política nacional de efeitos tão nocivos para com os cidadãos deste país”.
Os resultados da CDU em Anadia ficaram muito aquém dos expectados e desejados. “Viver em democracia habituou-nos a aceitar as decisões dos eleitores continuando, no entanto, a acreditar que as nossas ideias poderiam trazer uma mais-valia para a vida do concelho”, refere, dando conta de que “estes resultados em nada abalaram a convicção dos que integraram estas listas e que, com toda a certeza, continuarão a acreditar neste projeto”.

Catarina Cerca