É cada vez mais frequente vermos nas redes sociais – do Twitter aos grupos de WhatsApp – desinformação apresentada em forma de notícia, com imagens que replicam os layouts de jornais tradicionais.
Umas vezes como se fosse uma notícia. A maioria, como citações que nunca foram produzidas.
A desinformação sempre existiu. A novidade dos nossos dias é o meio como essa desinformação se dissemina. Muito mais rápido, abrangente e anónimo.
Este é um dos maiores desafios dos nossos tempos. A maior ameaça à nossa civilização, tal como a conhecemos.
Por mais que cada um de nós, individualmente, bloqueie a corrente da mentira, denuncie e repreenda quem faz circular desinformação, será sempre uma gota pontual no oceano.
Dificilmente conseguimos saber qual a origem, quem lançou o boato. Muito menos impedir a disseminação.
Têm sido aventadas várias possíveis soluções. Impedir o anonimato nas redes sociais parece-me bastante avisado, mas não sabemos como o fazer àqueles que interessa mesmo. A regulação tem-se mostrado ineficaz e não se vislumbra como pode resolver o problema de fundo. Na China proíbe-se, mas não me parece que em democracia seja aceitável uma firewall da “verdade”.
Se a ameaça é civilizacional, a reposta tem de ser civilizacional.
A solução, tem de partir de cada um de nós. Da forma como cada um valoriza e procura a verdade. A verdade neutra, objectiva, universal, impessoal.
O esforço deve estar concentrado em educar para a procura da verdade. Para a importância da verdade. Não só educar as crianças (esta é uma matéria para a disciplina de cidadania), mas infelizmente também muitos adultos.
Os grandes aliados da verdade continuam a ser os órgãos de comunicação social (OCS). Sinal disso mesmo é o ataque que vemos diariamente nas redes sociais ao jornais e aos jornalistas. Quando um jornal dá uma notícia que desfavorece o “meu” lado, rapidamente surge o epíteto de “jornalixo”.
Curiosamente, de ambos os lados da barricada do momento. O jornalismo não está isento de erros, tendências ilegítimas e pressões. Não estou a endeusar os OCS nem os jornalistas, que estão tão sujeitos a falhas e à corrupção como qualquer um de nós. Mas é nos OCS e no jornalismo organizado, com editores, revisores, fact checkers e valores profissionais, que cada um de nós pode ter mais hipóteses de encontrar a verdade objectiva.
A não ser que me feche do mundo, eu não consigo impedir que me chegue um meme falseando a declaração de um político. Mas posso ir ao site do Expresso (ou do JB) verificar se um jornalista noticiou aquela declaração.
As redes sociais não são um espaço de liberdade de expressão, como apregoa Musk. Como disse João Pereira Coutinho, são antes um espaço de mutilação de expressão, onde o algoritmo fecha a conversa à confirmação dos meus vieses, àquilo que eu quero ouvir, sem contactar com a realidade do outro lado e sem oportunidade de verificar a verdade neutra.
Ao contrário, quando folheio um jornal, sou obrigado a passar pelo que gosto mas também pelo que não espero. No infinito scroll do TikTok vejo apenas repetidamente o que me agrada.
O grande risco da substituição dos jornais, é perder a mediação. A verificação. O jornalismo existe para distinguirmos o trigo do joio. É preciso defendê-lo. Para que o jornalismo continue a defender a democracia.
E.T.: O Vinho do Ano para a Revista de Vinhos foi o Luís Pato, Vinha das Valadas 2020. O local desta vinha é único e irreplicável. Mas o saber da vinha, da videira, da uva, do mosto e do vinho foi trabalho, estudo, experimentação e muitos erros. E isso está ao alcance de quem o queira fazer. Parabéns Luís Pato. E obrigado.