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André Chambel

Membro da Assembleia Municipal de Oliveira do Bairro pelo CDS

O que move a esquerda e a eutanásia

No dia 8 de dezembro foi aprovada a chamada “Lei da Eutanásia” que é uma forma simplista (com os perigos que essa, como qualquer outra simplificação traz) de denominar a lei que regula as condições em que a morte medicamente assistida não é punível. Porque é de morte que estamos a falar.

Estranho país democrático este que, se há 155 anos aboliu a pena de morte e passados dois anos a escravatura, qual marcos de avanço civilizacional da monarquia constitucional, vem agora, em pleno

Século XXI, despenalizar a interrupção da gravidez e a morte medicamente assistidas.
Poderão alguns afirmar que são afirmações de imperativo ético da autonomia da vontade. Mas se o que está em causa é a vontade, tratemos dela. Esta vontade deve ser acompanhada de escolha. E para a escolha, temos de ter alternativa. E a morte nunca deve ser a única alternativa.

E, aqui chegados ao Século XXI, a escolha que nos dão, que a esquerda nos dá, é a morte. Em 2007 e agora em 2022, sempre em maiorias absolutas do Partido Socialista e sempre acompanhados pela esquerda (com a excepção agora do PCP) e agora, também pela “direita” da Iniciativa Liberal – que de direita tem cada vez menos.

Escrevo estas linhas sem esperança de reversão dos acontecimentos, mas na Vossa reflexão, ao caminho que os oportunismos ideológicos da existência de uma maioria absoluta nos levam.

O oportunismo leva ao caminho mais fácil e mais aliciante. A demagogia da moda vigente e do ciclo noticioso imediatista leva-nos a um “avanço” sem retorno (porque a esquerda e a ética republicana não aceitam passos à retaguarda ou arrependimentos de regime).

Porque a nova legislação que regerá a morte assistida não vem resolver os problemas daqueles a que pretensamente se dirige. Vem, simplesmente dar-lhe a única alternativa para o fim do sofrimento e da esperança.

Nas palavras de Manuel Villaverde Cabral “Se o governo quisesse mesmo actuar de forma positiva em matéria tão séria como as doenças mortais, então investiria nos cuidados intensivos que não financiou, em vez de tentar impor a ideologia da moda.”

Tempos houve em que questões de consciência e de direitos fundamentais seriam obrigatoriamente levados a sufrágio universal, ou seja, a referendo. Mas depois dos dissabores do passado, convém mais à esquerda que os mesmos sejam “resolvidos” nos passos perdidos da Assembleia da República, mesmo não tendo mandato do voto popular para estas matérias. Recordo que apenas o CDS, o Bloco de Esquerda, o PAN e o Livre clarificaram a sua posição acerca da Eutanásia nos seus programas eleitorais e destes, o único contra era o CDS.

Querem convencer-nos, o PS, que nos restantes anos da legislatura se comprometem com medidas em matéria de cuidados paliativos. Mas não deveriam estas medidas ser implementadas antes do último recurso? Não deveriam ser a primeira alternativa, para todos, e não a alternativa apenas para alguns?

A esta maioria de esquerda, não move o SNS que não funciona… move a Eutanásia; não movem as urgências que fecham… move a Eutanásia; não move a falta de médicos de família… move a Eutanásia; não move a falta de cuidados paliativos… move a Eutanásia; não move a população no limiar da pobreza… move a Eutanásia; não move uma segurança social desequilibrada… move a Eutanásia; não move o défice demográfico… move a Eutanásia; não move o apoio às famílias… move a Eutanásia;
Este artigo pode parecer um pouco demagógico para o meu tipo de escrita, mas neste momento é o que me permite mostrar o que move a esquerda e a “sua urgência pela Eutanásia”.

Texto escrito ao abrigo do anterior acordo
ortográfico, por vontade expressa do autor