Assinar

Manuel Armando

Padre

Quem me ajuda?

Se disser que não sou capaz de mudar o mundo, ou parte dele, estarei a querer enganar a mim próprio ou abster-me de trabalho árduo, proveitoso e necessário e a remeter-me à preguiça da inutilidade.

O Universo goza o condão de ter sido formado de um modo incompleto, isto é, o que apareceu foi perfeito, mas deveria vir a ser, depois, ajustado com outras forças e aí reside o busílis da colaboração e tarefa de todos.

Não é, seguramente, chauvinismo afirmar que está dentro das minhas atribuições zelar pelo bem do meio, país e mundo por onde caminho. Também não é mera utopia. Será um apelo, talvez infantil, sabendo, de antemão, que muitos vão rir. Contudo, mantenho fundada esperança e quase a certeza de alguém parar no decorrer das suas passadas para pensar de um modo positivo e empreendedor. Se isso acontecer, não dou por desperdiçado o tempo que ocupo nesta congeminação, para mim muito séria e oportuna.

Olhamos à nossa volta e, para além de quaisquer horizontes, que descobrimos?

A comunidade humana está a sujeitar-se a múltiplas mutações em todos os sectores da vida, desde a política à economia, sociologia, arte, moral ou religião. Há uma instabilidade notória permanente que produz, a cada momento e num crescendo assustador, uma inquietação ou medo sobre o instante seguinte.

Os costumes sadios vão-se degradando continuamente sem que alguém procure pôr-lhe um travão. Muito pelo contrário.

É o valor da vida e do trabalho, dos relacionamentos de amizade e família, dos compromissos e governações, da justiça, da fome e dos crescimentos etários e mais por aí adiante.
Verifica-se, por exemplo, um vazio nos interesses ou alvos a atingir de uma parte da juventude entregue ao devaneio e alienação sobre a concretização de quaisquer sonhos úteis. Aliás, aqui, observa-se um distanciamento quanto às obrigações familiares de orientação, abjuradas em prol de noções de liberdade e realizações pessoais fictícias e no detrimento da elevação de outros sentimentos positivos, relativos à construção de uma sociedade sã, empreendedora, visando algum próximo futuro bem risonho, tranquilo e feliz.

Os mais novos parecem ser educados longe de uma realidade humana sociologicamente cabal, arrumados, por vezes, para os cantos de vida e laboração a que não se achavam afeitos, por os seus progenitores descobrirem artes e vocações irrealizáveis que atrasam ou, mesmo, fazem gorar os verdadeiros caminhos que seriam as suas reais aptidões. Assim sendo, quando todos descobrirem o erro, será bastante tarde, para não afirmar que hão criado já os inúteis da sociedade.

O crescimento anímico, psicológico ou operacional fez-se por caminhos ínvios, sem meta adequada à capacidade de produzir algo de válido.

Dá-nos a impressão do total alheamento de quanto se passa à sua volta, seja a nível mundial ou num âmbito mais restrito. E quando tudo se passa sem mexer com a sensibilidade pessoal de cada um, então o abismo aproxima-se a passos largos e engolirá a todos.

Sobre o que digo acerca de uma juventude a crescer não incluo na mesma bitola todos os jovens, até porque os há muito empenhados num testemunho aberto e produtivo, em diversos lados. Contudo, todos nós remaremos, com certeza, para que bastantes possam passar pela idade e, depois, assumirem o estado adulto com experiências firmemente fundadas e convenientes.

Todos podemos e devemos dar alguma coisa de nós, daquilo que está ao nosso alcance, e fazer o mundo melhor.

Cada pessoa (eu… tu) não deverá esquecer que cumprir quanto lhe compete na vida diária é tornar-se superior, mais justo, apaziguador, artífice da fraternidade para, sem oscilações nem subterfúgios, construir uma humanidade feliz e harmoniosa. Do que eu tenho a realizar, todos os dias, depende uma ínfima parte do equilíbrio universal. Todavia, sei que sou uma gota minúscula de água, mas o oceano para o ser, necessita de mim.
Ora, eu nem sempre me sinto apto a operar tal encargo, mas continuo a tentar. Por isso, quem me ajuda?