Assinar
Anadia // Bairrada  

Anadia: Rede local visa identificar e proteger vítimas de violência doméstica

Foi durante o Plenário do Conselho Local de Ação Social de Anadia, que teve lugar no passado dia 5, no Museu do Vinho Bairrada, que os parceiros ficaram a conhecer melhor a rede que, em Anadia, quer proteger as vítimas de violência doméstica. Intitulada “Voz em Rede”, este projeto foi apresentado pela enfermeira Silvana Marques (UCC Anadia) e pelo alferes Tiago Fernandes (GNR de Anadia).
A apresentação dos dados estatísticos da Violência Doméstica no concelho, no âmbito do Projeto “Voz em Rede” revelou que, à semelhança do que se passa no país, esta é uma problemática grave que afeta também o concelho e a região da Bairrada.
O projeto “Voz em Rede” nasce no concelho em 2013, com vista à prevenção de situações de violência doméstica. Embora seja um assunto do foro da vida privada e que, por tal, dificulta aos técnicos saber o que realmente se passa dentro de quatro paredes, a verdade é que é possível detetar, sinalizar e agir.
A rede local contra a violência doméstica definiu estratégias que permitem detetar sinais de risco, proteger as vítimas, evitando assim situações graves ou até mortes.
“A violência doméstica não escolhe idades, género ou classe social e as famílias muitas vezes escondem as situações”, alertou Silvana Marques, dando nota de que, em 2014, foram assassinadas, em Portugal, 40 mulheres, vítimas de violência doméstica.
A rede criada no concelho – envolve várias instituições – visa promover os direitos das vítimas de violência doméstica, prevenir ou pôr termo a situações suscetíveis de afetar a sua segurança, saúde, formação, educação ou desenvolvimento integral. Mas para quebrar um ciclo em que não se age ou atua atempadamente, a rede tem dado especial enfoque à sensibilização e formação, promovendo os direitos das vítimas de violência doméstica, apostando em ações preventivas com o apoio de todos os parceiros que se devem manter atentos, por forma a proporcionar segurança, ajudando a promover a autonomia e o desenvolvimento de pessoas vítimas de violência conjugal e/ou doméstica. Localmente, a rede “apoia as vítimas, orienta-as a para uma tomada de decisão e elaboração de um projeto de vida”, adiantou Silvana Marques.

Dados concelhios. No concelho de Anadia, em 2014, registaram-se 53 casos de violência doméstica, enquanto que no concelho vizinho de Oliveira do Bairro se registaram 75 casos. Na Mealhada foram 22, mas como disse o alferes Tiago Fernandes, da GNR de Anadia, a leitura destes dados não pode, nem deve ser feita de uma forma tão linear.
Embora a preocupação da GNR seja “dar uma resposta cada vez mais qualificada, ao nível do policiamento (sinalização), processo penal (investigação e inquérito) ou psicossocial (reencaminhamento das vitimas)”, Tiago Fernandes revelou que no concelho anadiense as freguesias com o registo de mais casos foram as de Arcos (10), Vilarinho do Bairro (8) e Sangalhos (7), S. Lourenço do Bairro (5), pois são também as que têm mais habitantes.
Um outro dado curioso prende-se com os meses em que ocorreram mais casos de violência doméstica: janeiro (6), fevereiro (7), maio (5), outubro (7), novembro (10) e as horas a que ocorrem: das 10 às 12h, às 17h e das 20h30 às 21h30, explicado, talvez, por ser o horário em que as famílias se reúnem para as refeições.
E como não é fácil aos agentes de autoridade intervir, o seu trabalho está a assumir um papel cada vez mais preponderante ao nível da prevenção, através de ações escolares porque é aqui que muitas vezes começam os vícios e relações conflituosas entre os namorados.
Na ocasião, a presidente de Câmara Municipal de Anadia, Teresa Cardoso, reconheceu a importância de conhecer alguns dados locais, “que são sempre uma preocupação para nós”, não deixando de destacar a importância das ações de sensibilização: “é preocupante que esta violência comece até nos mais jovens, no namoro. É preciso trabalhar nesta área, na prevenção”, considerando muito benéficas todas as ações de sensibilização que se possam fazer nas escolas “com os mais jovens, pois são o futuro”, diria.
Catarina Cerca