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Águeda // Bairrada  

ABIMOTA: 50 anos a impulsionara indústria nacional a partir de Águeda

As comemorações do 50.º aniversário da ABIMOTA terão lugar no próximo dia 5 de julho, em Águeda. O vasto programa integra, pelas 17h30, no CAA, uma cerimónia de homenagem a figuras e entidades marcantes na história da associação.

A celebrar meio século de existência, a ABIMOTA – Associação Nacional das Indústrias de Duas Rodas, Ferragens e Mobiliário – continua a afirmar-se como um pilar do desenvolvimento industrial em Portugal, com sede em Águeda.

Gil Nadais, diretor executivo da associação, faz um balanço destes 50 anos ao serviço da indústria nacional, destaca os marcos mais importantes do percurso da ABIMOTA, sublinha o papel da região de Aveiro como centro nevrálgico da indústria das duas rodas e antecipa os desafios futuros que se colocam aos setores que representa.

A ABIMOTA está a celebrar 50 anos de atividade. Que balanço faz deste meio século ao serviço da indústria nacional?
Melhor do que nós, são os associados e as empresas que podem responder a essa pergunta. Da nossa parte, entendemos que a ABIMOTA tem feito uma caminhada bastante interessante no apoio à indústria, reforçando as suas competências e ajudando os setores que representa a resistir, apresentando novos produtos, e continuando a lutar por melhorar não só a economia regional, mas também a economia do país. Não podemos esquecer-nos que a ABIMOTA não é igual à maioria das associações empresariais cuja ação, apesar de valiosa, limita-se à representação institucional, à formação e ao apoio jurídico. A ABIMOTA, além disto, tem ainda uma forte componente laboratorial e de suporte às empresas.

Que momentos ou conquistas considera terem sido verdadeiramente transformadores para a associação e para os setores que esta representa?
Depois da criação da associação, obviamente, em 1975, diria que um dos momentos-chave foi o da construção destas instalações, em 1994, e a decisão de aqui criar um laboratório de ensaios que tem tido um papel determinante no apoio à indústria. Outro marco foi o alargamento da associação, em 2003, aos setores das ferragens e do mobiliário – a ABIMOTA começou por representar somente o setor das duas rodas. Isso quer dizer que estes grupos de empresas entenderam que o trabalho da ABIMOTA era meritório e que teriam mais-valias se partilhassem a mesma associação. Mais recentemente, destaco a criação, em 2022, do BIKiNNOV, que veio complementar o trabalho feito, durante muitos anos, pela ABIMOTA, nesta área – a ABIMOTA continua a assegurar a representação institucional do setor das duas rodas, enquanto o BIKiNNOV trata de tudo quanto é inovação e desenvolvimento.

A ABIMOTA representa, atualmente, quantos associados?
São 180 associados dos três setores. Continuamos a ter mais associados no setor das duas rodas, no entanto, temos vindo a assistir a um incremento significativo no número de associados do setor de mobiliário metálico. No que diz respeito ao setor das ferragens, o número de associados tem-se mantido.

Como é que vão assinalar este cinquentenário?
No dia 5 de julho, teremos uma visita a estas instalações, a inauguração de uma exposição alusiva aos 50 anos de atividade da ABIMOTA e o descerramento de uma placa evocativa; seguimos, depois, para o Centro de Artes de Águeda, onde teremos uma sessão solene com algumas homenagens: atribuiremos o título de Associado Honorário a quatro figuras de destaque pelo seu contributo para a instituição e distinguiremos as empresas associadas mais antigas e os colaboradores com maior longevidade na história da associação. Finalmente, haverá um jantar de confraternização.
Para assinalar este aniversário, a ABIMOTA lançou ainda uma campanha de isenção de pagamento de quotas durante o ano de 2025 para novos associados e uma campanha de 10% de desconto nos serviços disponibilizados pela ABIMOTA para associados atuais.

O que representa esse gesto de homenagem a colaboradores e empresas neste aniversário?
É, sobretudo, um gesto simbólico de gratidão para com o passado e uma maneira de reconhecermos o empenho e dedicação destas pessoas, ao longo dos anos, no trabalho em prol da associação. Obviamente que os atuais colaboradores são muito importantes, mas se não houvesse todo aquele conjunto de pessoas que os precedeu, eles não estariam cá ou, pelo menos, não estariam a celebrar 50 anos de atividade, mas sim a lançar a primeira pedra. É cada vez mais difícil encontrar pessoas dispostas a desenvolver este trabalho associativo. Há que reconhecer que houve algumas pessoas cuja passagem pela ABIMOTA foi marcante, bem como a persistência de outros que ainda hoje continuam a fazer parte desta organização.

Qual a principal mensagem que a ABIMOTA pode deixar à indústria, à região e ao país nestas comemorações?
Que podem continuar a contar connosco, pelo menos, por mais 50 anos, no apoio à indústria e aos empresários.

A ABIMOTA está sediada em Águeda, um dos principais polos industriais da região. Como tem evoluído a relação da associação com o tecido empresarial local?
Tem evoluído de forma positiva e a maior prova de que as empresas reconhecem o nosso trabalho é o sucessivo aumento de associados a que temos assistido. É preciso ver que a ABIMOTA não é uma associação generalista, ou seja, trabalha especificamente com três setores de atividade. E isto faz com que as possibilidades de crescermos diminuam muito. Afinal, não podemos ir buscar associados a outros setores além daqueles que representamos. Ora, se, ainda assim, o número de associados tem aumentado, isto só pode significar que a ABIMOTA é reconhecida como uma entidade que presta um serviço relevante às empresas e à comunidade.

Como caracteriza o atual momento dos setores representados pela ABIMOTA – duas rodas, ferragens e mobiliário?
Na conjuntura que o mundo atravessa, em que temos um senhor que se levanta de manhã e diz que vai impor taxas de 50%; que, à tarde, opta por suspendê-las durante não sei quando tempo; e, à noite, já afirma que vai ficar-se pelos 20%; e, claro, juntando a isto o facto de termos uma guerra às portas da União Europeia, com todas as alterações geopolíticas que isso acarreta, fazer um balanço ou querer ter uma perspetiva a curto prazo é como nos sujeitarmos a uma previsão de bola de cristal.
Tendo em conta que a grande maioria das empresas com as quais trabalhamos são exportadoras, um cenário de grande turbulência internacional como o que vivemos tem efeitos significativos. O contexto nacional acaba por contar pouco – ainda assim, as empresas agradecem que as coisas em Portugal vão continuando sem grandes sobressaltos, que não haja grandes mudanças nos quadros legislativos e que se consiga alguma estabilidade. Já basta o alvoroço que nos chega de lá fora.
O setor das duas rodas teve um crescimento enorme na altura do Covid-19. Entretanto, decresceu, mas temos tido notícias de que está a ser relançado, sobretudo no aftermarket. Ainda assim, há que ter em consideração que, nos dois últimos anos, a queda no setor das duas rodas foi inferir a 3%, ou seja, não foi muito significativa. Quanto aos setores de ferragens e mobiliário metálico, têm tido uma evolução estável, com alguns altos e baixos, mas nada de muito relevante a assinalar.
No dia 28 de maio, acolhemos, no BIKiNNOV, a Conferência Internacional do Setor das Duas Rodas na Europa, um encontro que reuniu líderes institucionais, representantes da indústria e especialistas europeus que nos deixaram mensagens bastante otimistas quanto ao futuro do setor. É preciso ver que as duas rodas passaram por uma situação extraordinária de grande e efémero crescimento. Tivemos uma bolha e agora estamos a recomeçar. Atualmente, já estamos com números acima de 2021.

Há quem esteja convencido que o setor das duas rodas tem vindo a ganhar novo fôlego com as questões da mobilidade sustentável. É mesmo assim?
As práticas de mobilidade sustentável têm sido importantes, claro, mas o que fez com que o setor das duas rodas ganhasse verdadeiramente novo fôlego foi o facto de a União Europeia ter imposto medidas anti-dumping, fazendo com que os produtos de origem asiática não mais pudessem entrar na Europa a qualquer preço. Esta medida de proteção das indústrias europeias, tem contribuído grandemente para que, cada vez mais, tenhamos uma indústria de componentes forte, que investe, inova e apresenta produtos de excelência no mercado. Se não fosse esta medida, poderíamos ter aumentado alguma coisa, mas não tão significativamente porque as portas estariam abertas à chegada de produtos provenientes da Ásia a preços muito baixos.
É verdade que têm surgido novas pequenas e médias empresas no setor das duas rodas, mas nós temos uma cadeia em Portugal que aposta muito no ciclismo. Há, inclusivamente, fábricas em Portugal que produzem grandes quantidades não só para o mercado interno, mas sobretudo para o mercado externo – uma delas produz mais de um milhão de bicicletas por ano. É muita bicicleta!

De Águeda a Anadia, o setor das duas rodas sempre teve um papel de enorme relevância para a economia da região de Aveiro. Atualmente, que papel é que Aveiro desempenha no panorama nacional das duas rodas?
A região de Aveiro é, sem dúvida, uma região de referência. Nós temos empresas a trabalhar para o setor do ciclismo desde Braga até Sintra, mas o maior número está localizado neste eixo Águeda – Aveiro – Anadia. Há empresas importantes fora deste território, mas a maioria está aqui.
No que concerne ao produto e à tecnologia empregada, Portugal lidera a vários níveis: somos líderes mundiais na produção de cadeiras para bebés; temos a maior fábrica de montagem de bicicletas da Europa; a maior fábrica de quadros de carbono fora da Ásia; a maior produtora mundial de quadros de alumínio por processos robotizados; fábricas inovadoras no fabrico de crenques – especialmente para bicicletas elétricas – e a maior fábrica de correntes da Europa, pertencente a um grupo norte-americano, está também instalada no nosso país. É um setor de ponta.

Que desafios enfrentam hoje os setores representados pela ABIMOTA, tendo em conta as exigências da descarbonização e da transição digital?
A ABIMOTA está muito atenta a esses assuntos e tem, inclusivamente, a decorrer duas candidaturas para apoiar as empresas nesse âmbito. Por um lado, estamos a fazer um “Roteiro para a Descarbonização”, cujo objetivo passa pela criação de um “guia de boas práticas” personalizado que permita às empresas reduzir progressivamente a sua pegada de carbono até 2050. Por outro lado, estamos a desenvolver uma plataforma digital na qual as empresas se podem cadastrar e registar os seus consumos energéticos, tendo acesso imediato a informações sobre a sua pegada carbónica. Com esta plataforma, as empresas poderão ter acesso a relatórios de consumo de acordo com os normativos que melhor lhes aprouverem.
Destaco ainda a AM2R – Agenda Mobilizadora para a Inovação Empresarial do Setor das Duas Rodas -, um consórcio promovido pela ABIMOTA, que junta 47 entidades e representa um investimento total superior a 213 milhões de euros. O objetivo é reforçar a competitividade internacional da indústria portuguesa das duas rodas, reduzindo a dependência do mercado asiático, através, por exemplo, do desenvolvimento de 64 novos produtos, processos e serviços com base em conhecimento tecnológico.
São trabalhos meritórios, que mostram que o setor está vivo, está dinâmico e com perspetivas de futuro.

A ABIMOTA faz 50 anos: se pudesse escolher um presente simbólico ou real para a ABIMOTA, qual seria?
Que, à semelhança do que aconteceu nestes 50 anos, a ABIMOTA encontre sempre pessoas dispostas a liderar, fazer crescer e prestigiar esta instituição. Tendo isto, o resto faz-se.

Afonso Ré Lau