Há um talento que não se ensina: o de fazer tudo com alma. E foi isso que se viu – e sentiu – no espetáculo “Mealhada Tem Talento”, promovido pelo Grupo de Trabalhadores Movidos pela Felicidade. Uma noite que pôs luz nos bastidores do concelho, onde mora gente que, além de trabalhar com competência, vive com paixão escondida na espuma dos dias.
Houve quem cantasse, dançasse, encarnasse personagens, trouxesse samba ou gargalhadas ao palco. Mas o maior espetáculo foi a entrega de cada um, num tributo à identidade coletiva do Município da Mealhada. Porque, por trás de cada serviço público, há pessoas reais, com histórias, sonhos e dons que ultrapassam os corredores de uma câmara, de um estaleiro, de uma escola.
João Paulo Teles apresentou esta epopeia de afetos e surpresas. Logo no arranque, um “trio maravilha” juntou Sónia Midões, Paulo Almeida e Hugo Fraga num momento musical que cresceu com a voz de Sandra Tatá. Da plateia, ia surgindo a voz de Luís Simões, vestindo a pele de “Gervásio”, espalhando sorrisos e memórias.
Alfredo Santos, invisual, provou com o seu acordeão e boa disposição que há talentos que não precisam de se ver para se fazerem notar.
Edgar Canelas falou do programa “+ Movimento”, mas mostrou, sobretudo, o quanto se move por dentro – ora com a bandeira, ora com o samba. Veio então o Carnaval – com letra grande. A capital do samba fez-se representar por obreiros da festa: Rita Fernandes, Soledade Fonseca, Amélia Monteiro, Adelaide Batista. Sambaram com alma e deixaram o Cineteatro Messias a balançar.
Seguiu-se um tributo aos bombeiros que são também trabalhadores do Município, gente que, quando sai do emprego, continua a salvar o mundo. Marta Baptista, na plateia, recebeu a menção mais terna da noite: “Vai precisar dos bombeiros em breve… e de uma boa maternidade aberta”, disse João Paulo, entre risos cúmplices.
Joana Neves encantou com a sua voz – descoberta recente, inspirada pela filha e pela professora Maria Mota. A arte, afinal, também se herda.
O final foi uma explosão de gargalhadas com uma “família emigrante” vinda de França, em confusões deliciosas sobre a geografia da terra. Joaquim Correia, Liliana Duarte, Isabel Lopes, Telma Duarte e Daniel Morais brilharam com sotaque e coração bairradino.
No fim, todos subiram ao palco. Um aplauso coletivo, sincero, como quem diz: a Mealhada tem talento. E, mais do que isso, tem gente bonita dentro.