Assinar
A. da Gândara // Anadia // Bairrada  

Am. Gândara: Luís Pato é nome maior dos vinhos portugueses

 

A Adega Luís Pato, localizada em Amoreira da Gândara, concelho de Anadia, esteve em festa no passado dia 22 de novembro, ao celebrar uma década de vida. Estas novas instalações foram, há 10 anos atrás, inauguradas pelo então ministro da Agricultura, Armando Sevinate Pinto, que não faltou ao convite tal como outras cerca de três dezenas de amigos, entre os quais Frederico Falcão, presidente do IVV, Pedro Soares, presidente da CVB, João Machado, presidente da CAP, Mário João Oliveira, presidente da CM de Oliveira do Bairro e Litério Marques, presidente da CM de Anadia.
Num almoço comemorativo, com assinatura do não menos conhecido chefe Vitor Sobral, Luís Pato, que sabe receber como poucos, voltou a inovar, como se a inovação não lhe corresse, desde sempre, nas veias.
Uma vez mais, surpreendeu os presentes com um menu que integrou cinco pratos e um trio de sobremesas que fez acompanhar com alguns dos vinhos que marcaram o seu percurso de vida, a saber: Espumante Maria Gomes Método Antigo 2012, Homenagem a DLR 2011, Pé Franco Vinha das Valadas 2011 1,5L, Abafado Molecular Tinto 2010, Vinha Pan 2009, Espumante Vinha Formal 2008, FLP 2007, Vinhas Velhas Brancas 2006, Vinhas Velhas Tinto 2005 1,5L, Vinha Formal 2004, Vinha Barrosa 2003 e Quinta do Ribeirinho Pé Franco 2002.

10 anos é o corolário de vivências e experiências. Num dia bastante frio mas soalheiro de outono, Luís Pato deixou a nota de que “quando se pensou na construção de um novo edifício, o objetivo era ter um local onde, para além de ter os vinhos em condições térmicas exemplares, se desenvolvesse a faceta de enoturismo que uma Rota da Bairrada exigia”.
Uma década a aliar a tradição, que são as castas portuguesas (aqui é de salientar a Sercialinho de que será praticamente um dos únicos produtores no mundo) e sobretudo as locais: “fomos divertindo-nos criando novos vinhos, usando novas técnicas”, disse, uma vez que admite que “a diferenciação é a grande arma do marketing”, mas porque (ao vender para 25 mercados diferentes) houve a necessidade de desenvolver, “até por uma questão de frescura mental, novos vinhos com estilos bem diferenciados, chegando a realizar cinco vinhos diferentes de uvas criadas no mesmo pé de videira, durante a mesma safra”, avançou.
A terminar diria que “estes 10 anos foram o corolário das vivências e das experiências que fomos tendo, não só nas viagens, onde aprendemos a respeitar as diferenças culturais e a ultrapassar a ideia de que os vinhos portugueses não se vendem porque não há restaurantes portugueses de elevada qualidade como sucede com os franceses, italianos e ultimamente com os espanhóis”. “Tentamos contornar sempre essa dificuldade com um diferenciado quadro de vinhos.”
Na ocasião, destacou ainda as presenças, neste evento, dos membros das duas associações de promoção a que pertence: Amigos da Baga (Baga Friends) e IWA – (Independent Winegrower’s Association), que “são um exemplo de união fundamental num país pequeno que necessita de ganhar dimensão na promoção além-fronteira”.

Luís Pato é uma referência. Na Adega, em Amoreira da Gândara, num ambiente acolhedor e reconfortante, como só Luís Pato sabe recriar, Frederico Falcão, do IVV, não deixou de sublinhar tratar-se de “um dos grandes e bons produtores de vinhos de Portugal” e, recordando os tempos que correu mundo, ligado ao setor, lembrou: “lá fora, a marca Luís Pato é uma referência”, assim como os seus vinhos “são uma referência dos vinhos portugueses de grande qualidade”.
Admitindo que a Bairrada passou por momentos difíceis, Frederico Falcão acredita que esta “começa a dar a volta e a recuperar o fôlego e o prestígio de outros tempos”. “O facto da Bairrada ter aumentado, no último ano, 10% na venda de selos é um sinal de recuperação, pequeno, mas importante”.

Inconformista. Na ocasião, o ex-ministro da Agricultura, Armando Sevinate Pinto recordou que já há 10 anos atrás “era uma adega inovadora”, tal como o seu proprietário que carateriza de “inovador e inconformista”, uma pessoa “por quem tenho muito respeito e admiração pelo seu trabalho na área do vinhos”.
Sevinate Pinto admite que o setor precisa precisamente de “gente inconformada, que faça novo e diferente”, ou seja, na linha seguida por Luís Pato “a quem se deve muito da visibilidade que os vinhos portugueses têm no exterior”.
Para o ex-ministro, que tem estado atento à evolução da região, “a Bairrada tem vindo a recuperar, resultado do trabalho de muitas pessoas.”
A seu ver, esta região demarcada tem de saber influenciar os consumidores, fazendo com que eles passem a gostar e a apreciar os vinhos aqui produzidos, num esforço de aproximação ao que o consumidor prefere, terminando dizendo que “o vinho é um setor que orgulha o país e um elemento incontornável da nossa cultura”.

Figura emblemática. Por seu turno, João Machado, da CAP, há mais de três décadas amigo do produtor bairradino, referiu-se a estes últimos 10 anos, como que a “uma continuidade do percurso escolhido”, ou seja, “ele é um inovador, que tem demonstrado conseguir manter-se sempre atual e a fazer da Bairrada um local de produção de vinhos de grande qualidade, inovadores e que vende no mundo inteiro”. Pelo que, na sua opinião, “a nova adega só veio solidificar o que fez ao longo de toda a vida, pois Luís Pato é um dos vitivinicultores mais emblemáticos de Portugal”.
João Machado explicou ainda aos jornalistas que o setor do vinho tem sabido aproveitar oportunidades, modernizado, replantado vinhas, aproveitado fundos comunitários, assim como explorado novos mercados.
“Em 2011, pela primeira vez na história da exportação, os vinhos de mesa (em litros e valor) ultrapassaram o vinho do Porto”, o que “é demonstrativo de que se trata de um setor dos mais importantes e dos que mais contribuiu para o equilíbrio da balança externa”.

História. A família Pato produz vinho na Quinta do Ribeirinho desde, pelo menos, o séc. XVIII. João Pato começou a engarrafar vinho das suas vinhas em 1970, tornando-se o primeiro produtor/engarrafador na região da Bairrada depois da sua demarcação.
O seu filho Luís Pato herdou o seu espírito inconformista e pioneiro, e em 1980 produz o seu primeiro vinho, um monovarietal de Baga de uma qualidade excecional e raridade absoluta, que é hoje procurado por apreciadores como um tesouro.
Luís Pato possui 60 hectares de vinha plantada com as castas Baga, Touriga Nacional e Tinto Cão nas variedades tintas, e as castas Maria Gomes, Bical, Cercial da Bairrada e Sercialinho nas variedades brancas.

Catarina Cerca
catarina@jb.pt