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Vagos: Jovem enólogo bairradino faz vinho na Austrália

Joel Santos tem apenas 27 anos e há um ano que se dedica à produção de vinho na Austrália. O jovem enólogo, natural de Vagos, que trabalha na Tim Adams Wines, está a adorar a experiência no novo mundo. Contudo, admite que a sua paixão pelos vinhos deverá passar por um projeto que quer vir a desenvolver na Bairrada, dentro de poucos anos.

Quem é Joel Santos?
Sou natural de Fonte de Angeão (Vagos) e tenho formação superior em Biotecnologia.

Como nasceu esta sua paixão pelos vinhos?
A minha paixão pelos vinhos vem de tenra idade, do tempo em que os meus avós produziam vinho para consumo em casa. Esta paixão foi crescendo e acabei por fazer a minha tese de mestrado na área dos vinhos.

Sei que também é músico. Fale-nos dessa experiência.
Tenho formação (nível 4) da Escola de Artes da Bairrada e toco saxofone na Banda Filarmónica da Mamarrosa há cerca de 15 anos e, apesar de estar ausente, participei no Concerto de Ano Novo, no Quartel das Artes, em Oliveira do Bairro.

É nos vinhos que trabalha atualmente?
Profissionalmente passei por uma indústria de biotecnologia, em Vila Nova de Gaia (projeto de fermentação de espumantes), pela Aliança – Vinhos de Portugal, em Sangalhos e pela Herdade da Malhadinha Nova, no Alentejo. Em 2014 tive oportunidade de ir à Austrália, para participar numa vindima.

Era um sonho fazer uma vindima no outro lado do mundo?
Foi um sonho que acabou por ter uma implicação na minha vida.

Conte-nos o que aconteceu.
Participar numa vindima na Austrália era um projeto pessoal, queria fazer aquela experiência, conhecer mais o novo mundo.
Tive a felicidade de ir fazer a vindima na Tim Adams Wines, um produtor que tem uma grande adega, com vinhos de muito boa qualidade e onde trabalha gente espetacular. Convidou-me a voltar e lá fui eu. Inicialmente durante três ou quatro meses para a vindima e agora já lá estou há um ano, como enólogo.
Repare que o mundo dos vinhos é pequeno. Como se faz vinho em todo o mundo é fácil movimentarmo-nos: ir para a Argentina, EUA, Nova Zelândia, Austrália e assim conhecer novas formas de trabalhar, outros estilos de vinho e outras castas.

Como está a ser essa experiência?
Está a ser uma experiência magnífica e muito enriquecedora. As pessoas são muito acolhedoras, e Tim Adams é fantástico, um grande enólogo. A experiência está a ser muito positiva. Os australianos sabem produzir bom vinho, sabem apreciá-lo e são grandes consumidores.
Como é a empresa/adega onde trabalha?
É uma grande e moderna adega onde são processadas duas mil toneladas de uvas por ano, entre brancos e tintos. Fazem-se vinhos de qualidade média superior. Aquela é uma das melhores regiões da Austrália para a produção vitivinícola – Clare Valley, sul da Austrália. Estamos a 400 metros de altura, com uma elevada amplitude térmica entre o dia e a noite, o que é excelente para os vinhos. Temos cerca de 150 hectares próprios de vinha e depois compramos uva aos produtores locais, mas só da região. Assim, conseguimos manter uma constância muito grande de ano para ano em termos qualitativos. As castas predominantes são: Syrah, Tempranillo (Tinta Roriz) e Cabernet Sauvignon (tintas), Riesling (produzimos um dos melhores Riesling do mundo) e Semillon. Produzimos vinhos muito equilibrados em termos de acidez e taninos, com excelente maturação. A vindima começa em janeiro/fevereiro e pode prolongar-se até março/abril. A produção destina-se sobretudo ao mercado interno, mas também exportamos para a Europa e China.

Quais são as suas funções?
Sou enólogo assistente. Somos uma equipa de três enólogos e sou o único estrangeiro: faço provas, processamento de uvas, lotes, como qualquer enólogo, em qualquer parte do mundo. A forma de trabalhar na enologia não é idêntica em todo o mundo. A maior diferença reside nas castas, às quais temos de nos adaptar porque também têm as suas características e particularidades.

Já tentou levar para lá alguma das nossas castas?
Já tentei a Touriga Nacional, mas vai levar algum tempo. Não é fácil mudar mentalidades e estilos.

Do que tem mais saudades?
A distância de Portugal é o pior. Comprei a viagem em agosto para poder vir cá agora, em dezembro. A viagem é muito longa. Lá sinto falta de tudo o que é português. Sou um bairradino de corpo e alma, adoro os nossos vinhos, a nossa gastronomia. Sou um defensor da Baga e da Touriga Nacional. Às vezes tento comprar vinhos portugueses mas a visibilidade dos vinhos portugueses na Austrália não é praticamente nenhuma. No Dia de Portugal (10 de junho) quis comprar um vinho português para celebrar e só encontrei Mateus Rosé. Por aqui já vê.

E o futuro?
O futuro passa por Portugal. Talvez daqui a três anos regresse para avançar com um projeto próprio na região da Bairrada, quem sabe.

 

Concurso na China pode ajudar em projetos futuros

Joel Santos foi recentemente selecionado para participar num concurso internacional de enólogos que acontece na China. Entre os 150 candidatos foram selecionados 48 enólogos de 18 nacionalidades a participar e Joel Santos é o único português presente nesta competição.
Trata-se do Ningxia Winemakers Challenge, um concurso bienal, que vai na 2.ª edição. Começou no passado mês de setembro e terminará em 2017.
O concurso, com duração de 2 anos, é organizado por uma das regiões mais promissoras da China e o Governo local e a CVR decidiram trazer novas ideias e enólogos com experiências diferentes internacionais, dar-lhes condições para produzirem os seus vinhos. “Escolhemos a nossa uva (Cabernet Sauvignon para todos os concorrentes) de uma área enorme de vinha que pertence ao governo. Temos direito a 15 toneladas de uvas que se traduz em média em 10 mil litros. Estive lá durante todo o processo de produção. Acompanhei a fermentação até à prensagem. Agora o meu vinho e todos os outros estão a estagiar e serão avaliados em outubro de 2017 por júri de provadores que vai avaliar os 48 vinhos. Os melhores recebem prémio monetário aliciante e todos os enólogos têm direito a 2 mil garrafas do vinho.”
Um concurso que reconhece ser mais uma experiência internacional que permite “conhecer muitos enólogos (a maioria do hemisfério sul), trocar experiências e partilhar conhecimentos”, conclui.

Catarina Cerca