O trabalho árduo, anónimo e nem sempre respeitado do assador de leitão foi reconhecido pela Confraria Gastronómica do Leitão da Bairrada, que inaugurou, no sábado, na Mealhada, um monumento em sua homenagem. “Homenagear o assador de leitão é reconhecer a alma da nossa gastronomia, é valorizar o trabalho árduo, quase ritual, que faz do nosso leitão um embaixador de Portugal no mundo”, realçou António Jorge Franco, presidente da Câmara Municipal da Mealhada, que aprovou um apoio extraordinário de 24.980 euros (+ IVA) para esta obra.
Apesar de estar incompleto (falta-lhe ainda o elemento principal, a vara), a peça escultórica foi já inaugurada, na presença de vários assadores e do secretário de Estado do Turismo, Pedro Machado, que reconheceu que este “celebra a arte e o engenho, o património, a história, e aqueles que, muitas vezes, ficando na segunda linha, são responsáveis por podermos apresentar um prato que é um ex-líbris, que todo o país conhece e que devemos e temos a obrigação de continuar a preservar”.

O que significa o monumento
O monumento representa, na parte superior, o forno do leitão, e as lamelas do seu arco, os diferentes tipos de assadores; na parte inferior, há cinco elos interligados, “cada um deles representando os cinco municípios” (Mealhada, Anadia, Oliveira do Bairro, Cantanhede e Águeda) onde o leitão é marca distintiva.
O projeto estava “na gaveta há alguns anos”, avançou o confrade António Duque, que idealizou o monumento, desafiado pelo presidente da Confraria, Paulo Cerca. “A ideia já tinha sido apresentada noutros municípios, que não deram resposta”, confessou António Duque, agradecendo ao município da Mealhada por ter dado luz verde ao projeto.
Mais respeito
O assador de leitão “é uma classe que nem sempre é respeitada”, manifestou António Duque. “Hoje fala-se muito de chefs, mas não conheço nenhum chef que trabalhe nas condições em que trabalham os assadores de leitão”, lamentou.
Da mesma opinião comunga Ricardo Nogueira, proprietário e assador de leitão desde os 12 anos, no restaurante Mugasa, na Fogueira. “O assador deve ser tratado como o chef de um restaurante. Os seus proprietários devem realçar a sua identidade, tirá-lo do anonimato e, desta forma, poderia haver mais interesse nesta profissão.”
Luciano Andrade, d’O Forno da Mealhada, enalteceu o reconhecimento de uma profissão que começa a ser cada vez mais rara, considerando que se deve “incentivar os jovens e dar formação nas escolas profissionais da Bairrada”.
Formação que a Churrasqueira Rocha já abraça há muito, admitiu Gleisson de Oliveira Campos, assador neste restaurante da Mealhada há 20 anos. “Penso que será a casa que mais formou assadores. Mas tivémos casos em que preparámos pessoas durante mais de um ano e que desistiram, porque não aguentam o ritmo de trabalho e também não se sentem valorizados”.
Presente na inauguração esteve também Pedro Soares, presidente da Rota da Bairrada, que adiantou que já há alunos das escolas da região com curso de restauração a fazer estágio junto dos assadores de leitão. Pedro Soares aplaudiu este reconhecimento da Confraria, lamentando porém que apenas cinco e não os oito municípios da Bairrada estejam representados no monumento.